O BRUXO
Eu sou o vetusto mago
Que nas medievais histórias,
Desejou com seus feitiços
Jamais fugir das memórias;
Com suas palavras mágicas,
Seu místico caldeirão
Causar terríveis assombros
À descrente multidão!
Eu viajo pelos ares
No dorso de meu dragão!
Em meu castelo em escombros,
Pelas trevas envolvido
Sou arisco e arredio,
A luz da aurora me enfada,
Eu sou igual aos devotos
Que enxerga a glória no nada.
Às vezes, troco beijinhos
Com Dafne – a linda fada!
Entre os montes mais remotos,
Mais altos e nebulosos,
Onde fizeram seus ninhos
Os condores vigorosos,
Da janela de meu quarto
Eu maldigo os vilarejos,
Os rústicos camponeses
E seus inúteis desejos.
Eu gosto de atormentá-los
Com meus sinistros bafejos!
Passam semanas e meses,
Passam anos decadentes,
Adornados com os halos
Dos anjos lucipotentes,
Minhas mãos vão invocando
E com fórmulas empuxo
De meu universo às portas
O primor, o encanto, o luxo!
Todos dizem pelas ruas
Que sou um horrendo bruxo!
Somente as paredes mortas
Podem dizer o que oculto
Nessas magias tão cruas,
Na passagem de meu vulto.
Os livros poentos, rotos...
A sombria voz ouvida
Ah! sabem que sou mais que um
Velho de barba comprida!
Sou o poderoso mago
Da geração esquecida!
ALEXANDRE CAMPANHOLA 08/05/2012