O cabaré às 3 da manhã.

O cabaré às 3 da manhã.

Ao entrar no salão, homens tristes e melancólicos disfarçam suas agonias em doses de conhaque e cerveja. A música insinua noites iluminadas dançantes. Mulheres entopem-se de tequila tentando anestesiar sua carne íntima. A beira da loucura está tão próxima que mal conseguem enxergar os degraus que levam ao primeiro andar. Lá, toda mente é insana, toda carne treme, toda roupa íntima é rasgada aos dentes. Enquanto que eu, no balcão do bar, sentado, observo a tudo e a todos, analiticamente não há céu nem inferno aqui. Mas tudo está a gosto, exceto uma  mulher muito bem vestida que me direciona um olhar fortuito. Sem demagogia, sei o que ela quer, e o que espera que eu faça. Não lhe dou atenção, pois não vim aqui buscar prazeres, nem atenção, nem compreensão, nem um ombro amigo. Estou aqui planejando um ataque, sutil, veloz e certeiro, sem chance de defesa. Noutro minuto, uma moça me manda um recado num pedaço de papel de guardanapo, abro, um número está escrito. Nas entrelinhas está uma marca de batom barato misturado com o frescor dos perfumes franceses, falsos. Sei que sou o mais estranhos dos personagens dessa noite. Os seguranças vigiam-me com olhares disfarçados, sabem eles que algo terrível deve acontecer, eles só não sabem quando, como e com quem. Hora de agir, vou ao banheiro no fim do corredor, um cavalheiro me acompanha como se fosse um cliente. No percurso uma dama me aborda tentando iniciar uma conversa amigável, ela só quer saber o porque estou ali. Digo-lhe que estou com insônia, apenas isso. Sigo meu caminho até os fundos, a dama insiste em me acompanhar para tentar mais uma vez adquirir minha atenção, paro, olho-a de frente, agarro-a pelos cabelos, dou-lhe um beijo na boca violento, solto-a e digo, volte para seus clientes, não estou aqui para os prazeres da carne. Ao entrar no banheiro, achei o que procurava, escondido atrás de uma meia porta fechada, silencioso, como quem escuta os passos do seu perseguidor. Ao notar sua presença tremula, um chute, e uma porta vai abaixo revelando uma imagem dantesca e assustada. Primeiro quebro-lhe o nariz, depois o asfixio na privada imunda. Antes do último suspiro, trago-o de volta, deixando ele respirar. Arranco dele a minha carteira que ele havia roubado enquanto eu estava bêbado e dormindo próximo ao meu carro. Minhas últimas palavras foram: “Nunca mais roube um bêbado dormindo, ele pode acordar e você pode acabar sem o seu nariz.”

Charles Silva

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