O CANTO DO LIVRE

 

AO MEU AMIGO ALEXANDRE BRAGA


Gema embora a terra inteira
Acurvada a iniquas leis:
Esta fronte sobranceira
Jámais de rojo a vereis.
Oh! ninguem, ninguem a esmaga,
Que eu sou livre como a vaga,
Que sacode sobre a plaga
O jugo d'altos baixeis.


Liberdade é o mote escripto
No céo, na terra, e no mar!
Dil-o a féra no seu grito,
E as aves cruzando o ar;
Dil-o o vento da procella,
A vaga que se encapella,
E nos espaços a estrella
Em seu continuo gyrar.


Dil-o tudo! mas ainda
Mais livre me creou Deus
Que os astros da altura infinda,
Os ventos, e os escarcéos.
Eu tenho mais liberdade
D'esta alma na immensidade,
Pois tenho n'ella a vontade,
Tenho a razão, luz dos céos.


Eu sou livre! erguendo a fronte
Diz-m'o uma voz na amplidão,
Quando de pé sobre o monte
Me elevo rei da soidão;
Quando além do firmamento
Alçando meu pensamento,
Solto nas azas do vento
Meu canto d'inspiração.


Eu sou livre! eis minha crença,
Nem força contra ella val.
Que um tyranno emfim me vença:
Triumpharei por seu mal.
Triumpharei, que algemado
E diante d'elle arrastado,
Sou livre! será meu brado
Té ao momento final.


E que importa que o tyranno,
Jurando vingança atroz,
Faça erguer, sorrindo ufano,
Um cutelo á sua voz?
Minha fronte sempre erguida
Ha de encaral-o atrevida,
E só cahir abatida
Ao rolar aos pés do algoz.


Mas nunca! pois fôra um preito
Dar os pulsos ao grilhão.
Tenho um ferro, e n'este peito
Tenho um livre coração!
Não! jámais serei captivo!
Se vencido restar vivo,
Cahirei, sorrindo altivo,
Sob o punhal de Catão!
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