O COLO DE UMA MULHER

O colo de uma mulher é sagrado
Muitos o querem, porém só os predestinados verdadeiramente o têm;
Não é território que se invade
É dádiva que se faz por merecer.
 
Se nele o cuidado extremo se materializa
Por seu conteúdo, o tesouro desmaterializado vira sonho
Idioma que não necessita tradução
Absorve-se por sua própria natureza.
 
No colo de uma mulher um homem adormece
Amanhece, para novamente inquietar-se e ser acolhido
Para novamente emaranhar-se entre teias
E como um imã, ser magnetizado ao seu precípuo casulo.
 
No colo de uma mulher um homem queda-se peremptoriamente marcado
Jamais libertar-se-á do seu fim
Porque já entregara sua alma nos seus meios.
 
Se no colo de uma mulher há o pleno aconchego
Há, sobretudo, o cheiro de um desejo maduro
Onde um caçador recebe seu banquete à porta do céu 
Água de deserto à mercê da sua sede
Calor de um verão que irrompe as entranhas de um inverno carente.
 
O colo de uma mulher é preciso e generoso
Tem o tempo como aliado
Pausa o filme de uma vida impávida
Tornando o seu eleito devidamente engalanado.
 
Da mulher que emana o dom da luz
O protagonismo é flagrante redundância
E na sua completude manifesta
Pluralidade, volúpia e elegância
O colo de uma mulher é universo essencialmente restrito
Onde formas, cheiro e gosto se coadunam num balé exclusivamente visto 
Restando o bem-aventurado
Em proeminente e glorioso regalo.
 
No colo de uma mulher um homem se reinventa
Toda agonia se acaba
Toda referência se confirma
E, por fim, todo o amor se embriaga. 
 
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