O ELÉCTRICO DOS MARTIRES

O ELÉCTRICO DOS MÁRTIRES 
Vou vagueando no cair da noite nesta cidade,
Cuja noite não respira, porque o eléctrico suspira,
E lentamente subindo e rugindo nesta calçada, 
Vai cansado e sem folgo, mas lá vai indo,
Porque não respira nesta noite ofuscada. 
Noite fria e tenebrosa como um túmulo,
Que aos vivos tudo pede e aos mortos tudo esconde.
De seu nome S. Lázaro, que no rosto banhado em lágrimas,
No ardente corpo, se refresca no orvalho das gentes, 
E calando e suspirando entre dentes,
Lá vai subindo a calçada inclinada,
E de seu nome a morte tão mal fadada.
Quem o impediria na sua subida impiedosa,
E indo nos seus carris por diante, 
Lá vai rugindo e cantando,
Pela tão malograda calçada,
Até chegar no fim do seu destino,
De seu nome Campos dos Mártires da Pátria.
Que de heróis o foram, que os despojaram em campo,
Com o seu sangue derramaram.
Mas cuja Pátria os desterrou,
E nas mãos desprezou toda a honra, 
Desta Terra Lusitana bem amada. 
 
(Carlos Fernandes) 
 
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