O FIO DA NAVALHA

Não posso acreditar que já te amei um dia

Que fiz planos, que sonhei e me entreguei

Que depositei em tuas mãos tudo o que sentia

E mesmo não querendo, por querer, acreditei.

Não posso acreditar que te vi chegar sorrindo

Que te vesti de poesias nos meus devaneios

Que na insegurança linda e frágil de um menino

Habitava o mal, ferindo os meus receios.



Não posso acreditar que te pedi essência

E meu orgulho se quebrou ao ouvir o teu adeus

Que pra você foi tudo uma brincadeira

Que seu tempo foi tão pouco e tanto foi o meu.

Não posso acreditar que mesmo assim te ouvi

Falar do absoluto, sem mentiras, regras ou pudor

Que tudo quando é verdadeiro não conhece o fim

Mas, por tão pouco teve fim, todo o seu amor.



Não posso acreditar que indo embora sem explicação

Você me deixou tantas vezes à mercê do acaso

E segurando ali parada os pedaços do meu coração

Descobri que amava um deus, mas um deus feito de barro.

Não posso acreditar que já te amei tão loucamente

Que me fiz, pra minha própria vida, tão canalha

E ferindo o meu olhar, deixei ficar tão inocentemente

O meu sonho mais bonito, sobre o fio da navalha.

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