O POBRE POVO ROSNAVA E MAL MORDIA

O Pobre povo rosnava e mal mordia

Levanta cedo ainda a lua se espreguiça,

Já Luiza estremenha se fazia há vida,

Para dar de comer há sua cria,

Que no berço feito dum canastro da vindima,

Que de muito carregar estava roto e não servia,

A não ser para poder dormir a sua cria.

 

E na sua rotina lembrava que o leite da cabra,

Que na sua frente fervia, estava pronta

Para matar a fome há sua menina,

Levantou-a, beijou-a, e encostou-a a si!

E afagando os cabelitos da pobre pequena,

Chorou, não sabendo se de tristeza ou de alegria.

 

Pois mesmo de ter tantas canseiras,

De tantas jornas carregar,

Que nem o corpo as sentia, de tanto frio passar,

Para chegar há noite e ter um pouco de pão seco,

Para que há barriga o pode-se aconchegar.

 

Como ela outras almas penavam,

Trabalhavam o dia inteiro,

Para comer o pão que o diabo amaçava.

 

 

Rosnavam e mal mordiam,

Porque o trabalho era muito,

Os dentes eram fracos,

E o pão era azedo, cheio de bolor,

Rijo que nem cornos,

E que eram poucos os cães que o engoliam.

 

Mas o povo sempre dizia,

Mesmo com o pouco que tinham,

Era com suor e labor que o requeriam,

Sem que lhes suja-se a cara,

Porque ao moleiro o não deviam.

(Carlos Fernandes)

 

Género: