O poeta e sua Sina

O poeta e sua Sina

 

É incrível como o poeta sofre as conseqüências do que ele próprio escreve. Se o poeta faz uma poesia falando de paixão, as pessoas acham que o poeta está falando dele, e que ele está apaixonado. Se o poeta escreve um texto triste, melancólico, as pessoas acham que o poeta está triste e por isso escreveu um poema triste. Algumas pessoas chegam a enviar mensagens de auto-ajuda tentando consolar o poeta porque ele escreveu um texto que fala de tristeza. Se o poeta escreve um texto alegre, com bastante humor, as pessoas imaginam que o próprio poeta está alegre.

 

Quase ninguém deixa de associar o que um poeta escreve, como sendo o que o próprio poeta está vivenciando. Imagine se um poeta escrever um texto falando de morte, de suicídio? Ou um texto que fale de uma doença ou enfermidade. As pessoas vão imaginar que o poeta está doente e por isso escreveu um texto que fala de enfermidades.

 

Escrevi um texto sobre uma pessoa que conheci chamado Eliseu Resende. Um caixeiro viajante que sempre estava viajando de estado para estado dentro do Brasil. Esse rapaz é muito namorador, e quase toda a cidade que visitava, sempre se encantava por uma moça do lugar. Então contei a história de Eliseu Resende num texto. Logo as pessoas me mandam mensagens dizendo que eu sou um namorador insaciável. Mesmo que no início do texto está escrito assim no título: - “O Namorador do Brasil (A saga de Eliseu Resende)” – Mesmo tendo indicado que se tratava de Eliseu Resende e não da minha pessoa, mesmo assim, recebi várias mensagens e comentários como se fosse eu mesmo o protagonista da história. Isso deve ser a sina do poeta. O povo acha que o que escrevemos é o que estamos vivenciando, ou o que abordamos num texto, é o que somos. É a sina do poeta

 

Charles Silva

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