O Sono

Sou seu amigo, sabia?

Pois é e você não liga a mínima!

Passa o dia inteiro esquecendo que eu existo

E eu, gritando: “Ei, sou eu! Estou aqui! Me sinta!”

E você, nada!

Então, já que não vai pela paz,

Vai pela guerra!

 

Vou atacando seus neurônios

Um por um

Cobrindo-os, como um manto

Aí você começa a ansiar por um quarto!

Uma cama!

Um cobertor!

Um travesseiro!

 

Ufa! Até que enfim você descobriu que sou seu amigo,

Que passo o dia inteiro tentando

Fazer você viajar.

Viajar?

Sim, viajar!

Viajar a um mundo encantador,

A um mundo assustador

E fascinante

 

Mas você é ingrato!

Passa o dia me desprezando,

Me rejeitando

E me fazendo brigar com seu consciente.

 

De repente, um barulho!

Um barulho, não, um monte de barulho!

Um exército inimigo que luta com um  incessante apito

E apita, e apita, e piii, piii, piii...

Aí você desperta

E paralisa o inimigo apitante!

 

Começa um novo dia.

Mais uma vez você vai me desprezar, né?

Ingrato!

Mais uma vez você ai me obrigar

A brigar com seus neurônios

Pra te fazer viajar

Ao maravilhoso mundo dos sonhos.

(in: “Expressões Impressas & Impressões Expressas”; Usina de Letras, Rio de Janeiro, 2009)

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