O Tempo
Onde está o tempo que você disse
Que tinha há uma hora atrás?
Para onde foram os minutos
Que os segundos devoraram?
Ainda acho o digital
Mais cruel que a ampulheta
Como a mesma, mais cruel que o solar
(Aliás, o Sol já se pôs
E a Lua já está morrendo).
Por que eu fico perdendo tempo
Esperando por você
Se eu não tenho tempo pra mim
E o tempo não nos espera?
É mais difícil, hoje, contar as estrelas;
Elas passam mais rápido que ontem
E, amanhã, mais rápido ainda,
Daqui a um mês, será possível vê-las?
Os anos não começam.
Quando acaba um,
É o final do outro.
As décadas não têm dez anos,
Os anos não têm 365 dias,
Os dias não têm 24 horas,
As horas nõ têm 60 minutos,
Os minutos não têm 60 segundos;
É tudo apenas por um instante...
Acho isso cruel.
E não sei porque perco tanto tempo
Esperando por você
Se nem sei se você espera por mim
E o tempo não espera por nós.
Rodrigo Dias
(in: “Expressões Impressas & Impressões Expressas”; Usina de Letras, Rio de Janeiro, 2009)