O Velho e eu velho
Quis fugir do destino
Escondendo-me opaco
Na alma de um menino
Mas o velho é macaco!
Sabotei o tempo imuto
Com bombas de ilusão
Mas o velho é astuto!
E atirou-me a desilusão
Cortei amarras ao mundo
Tentando fluir na maré
O velho viu-me do fundo
Puxou-me, perdi o meu pé
Estava quase afogado
Cheio de fel borbulhando
Mas o velho é danado!
E fez-me viver chorando
Maldito velho desalvorado
Que vives em mim fechado
No gelo branco do pecado
Ateando o meu negro lado
Liberta-te de mim e sai
Vai para o teu covil aguado
Onde fechado está teu Pai
Leva-lhe este meu recado
Pois nunca mais cederei
Nunca mais serei manipulado
Caia a terra e eu escaparei
Num carro de vinho aguado
Rumo ao firmamento
Onde as estrelas riem
Desprovidas de vento
Agitadas, me sorriem
Sabes velho…
A terra é o espaço
Onde brilham estrelas
O céu apenas terraço
Onde vamos colhê-las
Onde podemos vê-las
Nelas nos apontarmos
No brilho ofuscarmos
Ansiando por tê-las
Mas eu apenas te tenho
Velho corpo e alma pingona
Que no tempo detenho
Para fazer esta paragona