OCEANO HUMANO

Tudo conforme as regras, espantoso ritual

Me dedicando noite e dia, nada do nada senti

Entre livros, famílias, objetos, tudo igual

Mil vezes tentei, pensei, busquei, nada entendi.



E dentre os escombros das minhas ruínas

Fui descobrindo pouco a pouco a minha sina

Na loucura da minha lucidez, vir a exaltar

O sorriso e a dor, a paixão e o amor, em versos e rimas.



Dei à luz, mas a luz foi testemunha que me viu

Chorar, sorrir e querer que tudo fosse especial

E das profundezas do meu eu o que surgiu

Foi só o amor, que é para tantos outros, tão banal.



E em fúria algoz, mergulhei neste oceano humano

Mas, subindo enfim à tona, fiquei a deriva

Sem saber que rumo teve todos os meus sonhos

Ou se fiz da minha vida a minha própria mina.



Rasguei as vestes da minha alma em protesto

Sem medo do abismo que surge do egoismo

Porque eu vi o pranto verdadeiro quando é falso

E do sorriso tímido, brotar tanto cinismo.



E no banquete desvairado dos meus pensamentos

Penetrei no âmago da dor e da saudade

Me deliciando no êxtase dos meus sentimentos

Busquei na essência do amor, minha verdade.



Envilecida por muitos, incapazes de entender

Detonei mais de mil vezes o meu pobre coração

Pois falar do absoluto e síntese escrever

Só quem sabe ter nos dedos tamanha emoção.



Se bebendo o cálice da amargura, fui me consumindo

Renascendo fui como à um fênix, a cada passo, a cada dia

E toda vez que sinto válido o meu sofrimento

Com certeza novamente eu tudo sofreria.



E o tempo foi passando, veloz, raio de luz

Que ofuscou a vida, num querer de encontrar

Um rastro, vestígio qualquer que me seduz

Que me conduz, onde minha mão quer alcançar.



E no dia a dia, vezes tantas, foram que morri

Porque construindo, destruí tudo o que criei

E para meu espanto, de repente descobri

Que destruindo construí, tudo o que amei.

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