Olimpo dos Poetas
No Olimpo dos Poetas,
A fada Oriana voava,
E as tertúlias que aí se faziam
Eram lindas e discretas.
(Só os poetas podiam ver Oriana)
“Encanta a noite, Oriana!”, pediam.
E Oriana encantava.
Eles, felizes, sorriam,
Nos tronos daquele panteão
Onde Oriana tinha assento
E a poesia acontecia.
Eram todos grandiosos
Mal cabiam no seu lugar
(Mas a nenhum proibiam de entrar).
Escreviam versos maravilhosos
Dignos de quem sabe amar.
Camões tinha um fogo
Que ardia sem se ver.
Era homem de grandes paixões
Com sonetos e “Os Lusíadas” para ler.
Fernando Pessoa dizia-se um fingidor
Que chegava a fingir que era dor
A dor que deveras sentia
Nas pessoas que nele havia.
Florbela Espanca suspirava por uns braços
Que a prendessem em horas de cansaços
E a sua divagação
Animava o seu coração.
Augusto Gil encantava-se com a neve
Branca, fria e leve,
Mas também se entristecia
Com a criança descalça
Que ali padecia.
Alexandre O´Neil tinha palavras que o beijavam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor e de esperança,
De imenso amor e esperança louca.
António Aleixo, que não andara num colégio,
Numa escola ou num liceu,
Ofereceu ao amigo Régio
Um livrinho que era seu.
José Régio olhava-os com olhos lassos,
Olhos com ironias e cansaços.
Quando lhe diziam “Vem por aqui!”,
Cruzava os braços e nunca ia por ali.
António Gedeão sonhava, sonhava
Um sonho que o comandava,
Acreditando que o mundo pulava e avançava
Como bola colorida nas mãos de uma criança.
Almada Negreiros recordava a pastorinha
Chorada por todos e conhecida por ninguém.
Morrera de seus amores, a pastorinha,
Com ela suas mãos compridas e seus olhos também.
Almeida Garrett negava o seu amor.
Não amava, queria,
O amor tinha de vir da alma
E ele, na alma, tinha a calma,
A calma do jazigo.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(reconhecia a sua fada)
Estava feliz, vivera a madrugada que tanto esperara,
De onde emergira da noite e do silêncio
E, livre, habitava a substância do tempo.
Zeca Afonso cantava as canções de maio,
Rodeado e acompanhado pelos seus amigos.
E a mensagem, que ecoava bem,
Dizia “Traz outro amigo também”.
E então era Amália Rodrigues
Que à gente de sua terra
Cantava o triste fado.
E, a tristeza que cantava,
Dessa gente a recebia.
E este Olimpo de Poetas,
Nas palavras de Florbela Espanca,
Davam como se fossem
Reis do Reino de Aquém e de Além Dor,
Tinham dentro um astro que flamejava,
Garras e asas de condor!
Tinham fome e sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
E condensavam o mundo num só grito!
Encantado por uma fada chamada Oriana.
Maria José Moura de Castro