ONDE MORA O FADO VADIO

ONDE MORA O FADO VADIO

 

Onde mora o fado vadio Lisboa

Que se cantava com alma e com verdade

Nessas velhas tabernas

Que iam de Alfama à Madragoa.

 

E numa noite onde me bateu a saudade

Percorri travessas e vielas

E de velhas tabernas

Onde o fado era Rei nada vi.

 

Oh que saudades tenho eu

Das tascas desta linda cidade

Onde se comia um caldo verde verdinho

Com rodela de chouriço a fumegar.

 

Pasteis de bacalhau quentinhos

Com um copo de vinho

Tirado na hora do pipo

E servido de bandeja a escorregar.

 

Enquanto no canto da sala

Se ouvia o fado castiço

Nas vozes roucas mas afinadas

Choravam as guitarras a trinar.

 

E no Manel do Caldas

Onde a sala cheia de arte toureira

Se saboreava o choco frito

E morangueiro em malga de barro borbulhava.

 

E sentada numa escada vi uma velhinha

A quem perguntei se sabia onde se cantava

Com voz rouca e sentida o fado vadio

A que me disse que há muito o não via.

 

E de madrugada, chorei

E na angustia perguntei a Lisboa

Se sabia onde morava o fado vadio

Oh triste fim foi o teu fado.

 

(Carlos Fernandes)

 

 

 

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Os tempos mudam e no fim só restam saudades e lembranças.