Outro Dia

Era uma vez uma Fada,

Corria atrás das poças para não pegar fogo às asas,

Ironicamente já lera sobre escamas,

Mas recusava fielmente olhar para qualquer gota de água que não se limitasse a passar por baixo,

Amava as flores como filosofia,

Sem ponto… ponto!

 

O poeta anotava.

 

Ela rodopiava em arco-íris pela vida que nunca rezou por sequer começar a imaginar viver, sublime,

Ria-se enquanto ternurosamente lia Cesário Verde,

Adorava como juntos completavam o livro,

E entretanto o Dragão voltou.

 

Na terra da realidade às vezes ele tinha de cuspir fogo,

Robôs e umas pessoas caminhavam à volta da terra,

Robôs às vezes procuravam desesperadamente o frio que arrefecia a vontade de chatear a vida,

Pessoas não tinham escamas

E a Fada dançava à volta da fogueira que agradecia o calor proporcionado,

Bela terra de uns sonhos.

“Bom dia…

Acho que sim.”

 

A Fada às vezes fazia festas ao Dragão,

Coitado daquele que quisesse andar sempre direito,

Nem elas nem eles entendiam aqueles instantes de suave mel a passar mesmo por cima daquele fogo,

Pobre Dragão que queria manter a cauda em chamas…

Que felicidade.

Caro Dragão,

Caçaram-te o medo que orgulhosamente tinhas,

Tão orgulhosamente que eras o que eras,

Um dia a Fada ditaria as suas asas,

Já fora adivinhado bem depois das horas da manhã,

 

O poeta anotava.

 

Para os robôs o Dragão era o sol…

Para as pessoas o Dragão era o sol,

Para a Fada o Dragão era o Sol,

Para o Dragão a Fada era Vénus,

E por isso não sabia que desvio se apanhava,

Talvez só uma casa de banho à sua altura servisse de abrigo,

Parecia que qualquer cor parecia iminente de ser pintada sozinha nesta aqui terra… hmm,

(Não penses que nunca na vida serás carinhosa e orgulhosamente o Dragão),

Quem ditaria que chamas se apagavam ou acendiam?

 

O Dragão saiu,

Os robôs foram a acelerar as engrenagens para que pudessem ir carregar as baterias,

As pessoas matam a fome com o ato de ter a certa e mais absolutíssima noção,

A Fada continuava a dançar de forma meditacional e flutuantemente

Ao encontro da nova chance,

Ela às vezes ria-se do escorbuto dos robôs,

Já o Dragão serpentizava-se.

 

O poeta anotava.

 

Mas outro dia o Dragão descobriu uma nova força que o fez bater as asas com a certeza toda,

A Fada afinal é mesmo pura,

Até faz questão de se imortalizar,

Somos o que somos até dissiparmos pela verdade,

Às vezes nem carregamos o mesmo peso que carregamos,

Até que um dia caímos até voltarmos a andar de gatas e depois…

Ah,

A Fada estava a saltar pelas poças,

Como sempre dançava pelas escamas loucas do Dragão,

Coitado dele que nem ouvia,

Talvez.

 

E é isto,

O poeta fartou-se de anotar como os robôs se esqueciam e como as pessoas abriam espaço ao dia de voo,

E agora já sabes,

Poderás um dia contar isto e noutro contar ao sabor do vento que passará muitos anos depois,

Pois algum dia desaparecemos e resta não saber como.

 

A criança fecha o livro e por fim adormece.

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