PARÓCO DE ALDEIA E PROFESSOR

PARÓCO DE ALDEIA E PROFESSOR

Uma das vantagens com que podemos contar quando escrevemos um texto, ou quando falamos ou mesmo descrevemos actividades de pessoas reconhecidas, nos mais diversos sectores, é pertencemos à mesma região onde nascemos, crescemos, mas também aos conhecimentos pessoais, que vamos ganhando ao longo da vida.

Neste contexto, veio-me à memória o falecido e saudoso Padre Paulo Gomes da Costa Afonso, natural dos Foios (Sabugal), terras do planalto do Rio Coa, onde se situa a nascente deste rio.

Ali viveu durante a juventude as vicissitudes, a dureza da vida de quem nasceu em povoados transfronteiriços, atrás do esquecimento e afastados do chamado progresso e desenvolvimento.

A este propósito passei há dias por uma aldeia, que me fez lembrar aqueles tempos já longínquos, tendo um painel sinalizador avisando: “não adoeça aqui, não tenha acidentes, não temos médico”!

As geografias raianas estavam muito debilitadas em todos os aspectos, levando a uma coesão entre as pessoas para a luta pela sobrevivência.

Voltando a este sacerdote, em Abril de 1960 foi ordenado e durante cerca de quarenta anos exerceu a sua missão em diversas comunidades paroquiais no Concelho de Pinhel. Já debilitado, conseguiu ainda prolongar a sua missão na terra natal e aldeias limítrofes, desempenhando cargos de natureza paroquial e social.

Nos últimos anos da sua vida teve necessidade de recorrer à Residencial Sacerdotal, a funcionar no Seminário Maior da Guarda, onde viveu com muitas dificuldades físicas, devido à falta de saúde.

Quem o conheceu como Pároco, disse-me que se tratava de um humilde servidor da igreja diocesana, simples, modesto, próximo do seu semelhante, espalhando e comunicando a esperança, caminhando lado a lado com os seus paroquianos, abrindo-lhes o coração para Deus. No fundo procurou com o seu exemplo ajudar a construir um mundo melhor através do exercício sacerdotal e da docência.

Não esqueço, e por isso também deve ser recordado, as suas deslocações às minhas origens, à Paróquia da Bismula (Sabugal), onde mensalmente e durante alguns anos, conjuntamente com outros sacerdotes residentes na Guarda, co-celebrava uma eucaristia em sufrágio do bismulense Padre Manuel Joaquim Martins, seu companheiro do Seminário da Guarda. Esta atitude era reveladora de uma solidariedade, de uma união e de uma amizade, que infelizmente têm tendência a perder-se.

A imagem de “Pároco de Aldeia”, em que se revelava a proximidade com as comunidades, com aqueles que mais precisam, em face das necessidades de apoio espiritual nos nossos momentos difíceis através palavras de conforto, de relembrar a vida de sacrifício de Jesus Cristo, de conselhos ao nível social, humanitário, está infelizmente em vias de extinção, pese embora o Papa Francisco muitas vezes alerte para estas necessidades sacerdotais da proximidade na preferia.

Durante muitos anos, foi ainda professor de Português, na Escola Secundária de Pinhel, uma das profissões mais dignas das sociedades desenvolvidas.

Os Alunos de ontem, homens de hoje, foram uns privilegiados pelos ensinamentos que receberam deste Professor Padre Paulo da Costa Afonso.

A sua caminhada de sacerdócio de sessenta anos deve ser um exemplo para todos os crentes, sejam os mais velhos, mas principalmente os mais novos, no sentido de trilharem caminhos semelhantes.

O Padre Paulo conseguiu ao longo do seu sacerdócio entregar a sua vida às causas da missão do bem e da Evangelização.

No passado dia 7 de Fevereiro teve lugar nos Foios, sua terra natal, a Missa Exequial. No mesmo dia da festividade das Chagas de Jesus Cristo, que desde o princípio da nossa nacionalidade está tão enraizada e simbolizada nos diversos escudos nacionais, mantendo-se ainda hoje na Bandeira Portuguesa,

Nesse mesmo dia, com um sol radioso, num profundo silêncio e recolhimento senti que desceu à terra.

No meu regresso ao Fundão, pensei muitas vezes que quando partem agentes religiosos, culturais, sociais, como este Padre Paulo Gomes da Costa Afonso, as nossas comunidades ficam, na realidade, mais pobres, mais vazias, abandonadas e infelizmente mais desertificadas.

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Fevereiro/2019

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