PARTIDA
Autor: Soares de Passos on Friday, 30 November 2012
Ai, adeus! acabaram-se os dias Que ditoso vivi a teu lado; Sôa a hora, o momento fadado; É forçoso deixar-te e partir. Quão formosos, quão breves que foram Esses dias d'amor e ventura! E quão cheios de longa amargura Os da ausencia vão ser no porvir! Olha em roda estas margens virentes: Já o outomno lhes despe os encantos; Cedo o inverno com gelidos mantos Baixará das montanhas d'além. Tudo triste, sombrio, e gelado, Ficará sem verdura nem flôres: Tal meu seio, privado d'amores, Ficará de ti longe tambem. Não sei mesmo, não sei se o destino Me dará que eu te abrace na volta... Ai! quem sabe onde a vaga revolta Levará meu perdido baixel? Sobre as ondas, sem norte, e sem rumo, Açoitado por ventos funestos, Sumirá por ventura seus restos Nas voragens d'ignoto parcel. Mas ah! longe esta ideia sombria! Longe, longe o cruel desalento! Apóz dias d'amargo tormento Virão dias mais bellos talvez. Dá-me ainda um sorriso em teus labios, Uma esp'rança que esta alma alimente, E na volta da quadra florente Eu co'as flôres virei outra vez. Mas se as flôres dos campos voltarem Sem que eu volte co'as flôres da vida, Chora aquelle que em tumba esquecida Dorme ao longe seu longo dormir; E cada anno que o sôpro do outomno Desfolhar a verdura do olmeiro, Lembra-te inda do adeus derradeiro, D'este adeus que te disse ao partir!
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