PARTIDA

 

Ai, adeus! acabaram-se os dias
Que ditoso vivi a teu lado;
Sôa a hora, o momento fadado;
É forçoso deixar-te e partir.
Quão formosos, quão breves que foram
Esses dias d'amor e ventura!
E quão cheios de longa amargura
Os da ausencia vão ser no porvir!


Olha em roda estas margens virentes:
Já o outomno lhes despe os encantos;
Cedo o inverno com gelidos mantos
Baixará das montanhas d'além.
Tudo triste, sombrio, e gelado,
Ficará sem verdura nem flôres:
Tal meu seio, privado d'amores,
Ficará de ti longe tambem.


Não sei mesmo, não sei se o destino
Me dará que eu te abrace na volta...
Ai! quem sabe onde a vaga revolta
Levará meu perdido baixel?
Sobre as ondas, sem norte, e sem rumo,
Açoitado por ventos funestos,
Sumirá por ventura seus restos
Nas voragens d'ignoto parcel.


Mas ah! longe esta ideia sombria!
Longe, longe o cruel desalento!
Apóz dias d'amargo tormento
Virão dias mais bellos talvez.
Dá-me ainda um sorriso em teus labios,
Uma esp'rança que esta alma alimente,
E na volta da quadra florente
Eu co'as flôres virei outra vez.


Mas se as flôres dos campos voltarem
Sem que eu volte co'as flôres da vida,
Chora aquelle que em tumba esquecida
Dorme ao longe seu longo dormir;
E cada anno que o sôpro do outomno
Desfolhar a verdura do olmeiro,
Lembra-te inda do adeus derradeiro,
D'este adeus que te disse ao partir!
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