Partida

A pouco e pouco, despe-se dos aparatos.
Tira os brincos e os anéis,
o cinto e a saia,
remove a blusa e os sapatos. Um de cada vez.
Desaperta o travessão deixando cair o cabelo nos ombros,
veste uma túnica branca que a cobre até aos pés, mas continua descalça.
Encaminha-se para a janela, sentando-se no parapeito,
olha para baixo...
pensa que seria fácil...
pensa que seria covarde.
Acendendo um cigarro, encosta a cabeça ao caixilho, fecha os olhos
e com o fumo, inala também o aroma da noite
e porque choveu, o da terra húmida.
A sua mente divaga levando-a para algures...
Dança em pensamento. Rodopia
abre os braços e deixa-se levar para longe
voa para onde nada lhe possa tocar.
As notas de música que ouve seguem-se como se tivesse as mãos no piano
e as teclas respondessem ao seu coração.
Encontrando uma escarpa, pára
o mar em ondas fortes e sonoras estala lá embaixo.
Olha e pensa que seria fácil
e pensa que seria covarde.
Fecha os olhos, respira fundo
respira a noite, a terra molhada
respira a vida que não lhe pertence mais
e salta
voa livre
voa livre finalmente...
Género: