A penúria de um drogado

Um dia as artérias irão soterrar pela decadência suja. As agulhas enferrujadas não injetarão misericórdia. Os zumbis cairão em pedaços inúteis e uma pomba branca voará o céu. Uma ode a Notus, o filho bastardo da família desprezível, aquele fleumático disperso tangente a sua realidade. O homem sem objetivo, sem rumo e decência nas normas da vida. Pensou tanto no que fazer, nada fez. Lamentou tanto no que poderia errar, errou mortalmente. Notus como sopro, deixou-se ser vencido pelo tempo; Lord Cronos o esquartejou. Dançou sob a brisa de uma ideia, foi censurado pelo concreto. Tudo o que houvera em sua existência, foi-se, como folhas de um Ipê-branco nas profundezas do nada. ‘’Um entorpecido por pensamentos negativos’’, escrito em sua lápide. Foi esse seu último grito para o mundo.

Uma chuva cai e mergulha seus ossos. Ressuscitado da morte, o corpo está estirado em sacos de lixo. Ele, então, acorda. Foi um pesadelo macabro. A lágrima final completa a última gota da chuva. Hora de entorpecer-se com a angústia no braço.

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