Pendura

Como se fosse meu café da manhã,

Tomo uma pinga,

Que queima minha garganta,

Mas seda os perigos.

Estamos eu e o dono do bar do interior

De Minas.

O bar ainda meio “abrido”,

E eu já entrando primeiro que o vento frio.

O mesmo vento que balança as árvores na praça do centro,

Corta na rua as poucas almas vivas.

Tomo outra pinga,

Agora para calar meu fígado,

Esquecer de dilemas rascantes,

Da mulher que se foi,

Do emprego que não vem,

Dos sessenta chegando,

Chegando cobrança até por e-mail.

Cobranças e mais cobranças,

Como a do grupo de apoio,

O qual abandonei,

Ainda no começo.

Tomo outra pinga,

Bato o copo no balcão,

Peço pra pendurar.

O dono diz que não,

Não entendo.

Não vai pendurar a pinga,

E ainda me cobra as antigas.

Falo de minha situação,

Que pago assim que fizer um bico.

Ele promete chamar a polícia.

Tenho vontade de chorar, correr ou matá-lo,

Mas minha cabeça e coração se aquietam.

Afinal, sou pedreiro, não poeta.

 

Poesia integrante do livro: O Sorriso Eletrônico e Outras Poesias

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