Pensamentos

Desviei de todos os pensamentos
para não poder em ti pensar,
pensei sobre teu fim, mas sim, ignorei,
jamais esse final foi possível.
Todos na vida te nivelaram como cuidadora,
cuidaste de mim e do mundo
como quem cuida das ervas da mata;
cuidaste dos pares ao lado
enquanto a dor te castigava.
Senti-me vazio naquele hospital,
foi dolorido imaginar tua morte
ante aos órgãos desligarem. Eu sabia,
havia aceitado tal desgraça. Sabia
ao devanear naquele largo corredor,   
minhas lágrimas como gárgulas
cruzarem aquela noite fúnebre,
e com a morte no peito, fitei o futuro.

Nada a se cumprir, ninguém aparecia,
o frio que fazia aquecia meu anseio,
nada de boas notícias, era uma hora morta.
Parentes chegavam, saíram com o tempo,
pendências envolvendo documentação.
Tive a oportunidade de avistar-te na maca,
vi vosso corpo atrofiado na cama. Nenhuma
lágrima escorria da minha patética face.
A enfermeira ao se deparar com tua ansiedade,
disse-me que sentiste minha presença na sala.
Teu corpo reto e esquelético recordou-me
O Cristo Morto, de Hans Holbein: magra,
reta, e em uma longa transparente agonia.
Tão letárgico quanto a terra, não reagi
como Dostoiévski; simplesmente aceitei.

Ainda esperando alguma coisa…
Eu, solitário poeta, aguardava a tragédia,
e pelo badalar do tempo de angústia,
o médico apareceu:
''Nada bom, deste pronto atendimento irá à UTI''
Resumindo a minha maneira a mensagem dada.
Na madrugada no hospital, mais horas,
dessa vez sem muito o que relatar, a cirurgia
iria acometer teu corpo. Eu queria ter esperança,
mas sou dotado pelo caos da tragédia.
Nada a se fazer a não ser voltar à casa.
Desaguei olhando a lua, rezei a ela para te ajudar,
mas no púlpito da minha vida, esperei se apagar.
Dormi na coberta sozinho, de tanto frio que senti,
sozinho, ninguém ao lado, apaguei pensando
e pensando sobre meu próprio morrer.   

 

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