Pequenina

Olá, minha criança interior:

Quero hoje falar-te,

para que te recordes que as coisas muitas vezes

não são o que parecem...

nem o que gostaríamos que fossem.



Minha criança, meu eu que já foste,

de alguma forma, a tua realidade,

transformou-se nos meus sonhos...

como os castelos que vias no céu

onde eu hoje vejo apenas nuvens...

Acabei não tendo escolha:

ou guardaria o belo

que os teus olhos abarcavam,

ou sobrevivia.

Ah, se eu pudesse fazer-te então perceber

o que chamamos hoje "condição humana"...

Mas quero crer que nem tudo se perdeu

doce criança...

e apesar destas falhas, aflições,

e angústias que resultam das profundezas da rejeição,

há uma réstia da Luz que ilumina o Homem.

E é isso que agora vês:

- aquilo que outrora começaste!

Quero te dizer mais uma coisa:

- o chão que tu lavraste ficou perfeito,

e toda a lama que atravessaste

foi necessária.

Por mais que tivesses tentado

alterar o rumo das coisas,

e por mais que eu tivesse depois vivido e viajado,

chegaria sempre a altura em que a vida dá a volta

e nos torna conscientes do caminho a percorrer.

Se algo me deixa tranquila, 

é poder dizer-te agora

que fizemos juntas um bom percurso,

embora não tenha sido nem simples nem fácil.

Mas isto não é definitivamente

o fim da nossa luta...

O que faço agora é parte natural do destino do Homem,

este malabarismo dual

até o dia em que a Morte chegar.

até lá, ajudemo-nos uma à outra

tu que foste e eu que sou.

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