Perdido de ti...

Perdido de ti

Consomem-se-me inglórios os meus dias
arrastam-se-me as horas pesarosas
por entre os meus murmúrios suspirados,
carregados de uma ausência em ferida
pelos cantos magoada e pressentida,
feita de prantos por todos os lados.

Quebranta-se em mim o discernimento
e pesam-me as palavras que não digo,
consoantes em silêncio no meu peito.
Ajeito a minha cruz ao firmamento
e grito suplicando, estarrecido,
por ti que és minha luz e meu alento.

Lá fora os lobos uivam o meu lamento
e a noite veste-se de teus semblantes
confesso-me mendigo do teu corpo
e proclamo-te deusa dos desejos
e desejo-te presa nos meus beijos
na estonteante loucura dos amantes.

(Rui Tojeira)

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Comentários

Maria's picture

"Carregados de uma ausência em ferida..."

É uma ausência que se faz (oni) presente, pois que , se ainda em ferida, é porque não cicatrizou , não amenizou, ainda, a dor do amor.

Lindíssimo o seu poema, Rui!  

A mim, causou-me deslumbramento. 

Encantadores os seus comentários, grato amiga.