a pergunta

   Por dias e dias ele se fazia apenas uma pergunta. Já não mais interessava quando, nem onde havia sido a última noite em que eles estiveram juntos, nem porque, ele não se lembrava apenas e não gastaria nem mais um minuto a perguntar-se aquilo que a memória deveria presentear-lhe. Mas aquela dúvida sim. O perseguiria por toda a vida, talvez. Ele não temeu por um instante sequer a morte, mas a vida com aquela questão o apavorava em demasia: seria ele um homem sem face à Deus no momento de solucionar seus problemas? Ou era apenas por pura estupidez que ele não sabia ao certo nem do passado que seus pés tinham conhecido, nem o futuro que o perseguia debaixo de seu rabo, nem muito menos, eis aí a questão, o que ele faz aqui. Nem parece um presente, pensou, está mais para castigo. Concluiu. A dúvida o perseguiria até o fim: uma maldição: o tempo. A pergunta remanesceu.

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