PESQUISA SOBRE O DEMÔNIO

Numa madrugada de sexta feira, tão logo ouvi o primeiro cantar do galo, pus-me de pé. Vesti os velhos coturnos, calcei a velha calça de combate, os cintos e o suspensório, assim mesmo, gramaticalmente perfeito, uma mistura lógica de sinestesia, senti até o cheiro dos velhos tempos de guerreiro. Só que desta vez, a finalidade não mais era, pelo menos em tese, manobras militares nem simulações nos campos de combate. Queria fazer uma pesquisa sobre o demônio, quem ele era, o que fazia e onde morava esse ser tão popular que tanto causara prejuízos à vida dos seres humanos.
É claro, como sempre dobro meus meios, pus-me à marcha precavido. Levei comigo as estacas e o alho, quiçá, demônios corriam um sério risco de ser uma paráfrase de vampiros. Projetos paranormais, geralmente, são feitos por paradigmas. Vale ressaltar, como bem sabe os mais doutos, que em meu celebre projeto, fiz vasta revisão de literatura. Não restam dúvidas, que fui ao encontro desta nobre pesquisa de campo com um incalculável conhecimento de base teórica. Passei brevemente pelas teorias filosóficas de Sócrates, sem me esquecer de, antes, ter lido os relatos mais loucos da Odisseia de Homero, os deuses e suas façanhas.  Fiz uma viagem nos testos de Aristóteles, fiquei extático diante dos pensamentos do filosofo Santo Agostinho e até me divertir com as teses de São Tomás de Aquino. No Alcorão vi algumas alusões distantes sobre o demônio, de certa forma, os maometanos se preocupam mais em adentrar no território particular do demônio do que mesmo com sua pessoa, mas foi na bíblia que encontrei inumeráveis passagens onde o demônio se fazia presente, inclusive, com poderes bem sarcásticos sobre os seres humanos. Perturbava desde os mais humildes e ignorantes até os mais sábios e poderosos escolhidos por Deus.
                Mas chega de teoria! Obrigado oh deus Hermes! Todavia, hermenêutica é pilar para assuntos mais complexos. Estou a caminho do campo, estou adentrando nas entranhas de um empirismo mais simplificado. Já que o demônio existe em quase todos os lugares no mundo, seus rastros, provavelmente estão espalhados, sobremaneira, nos recôncavos que ora percorro. Quem é o demônio, não foi difícil descobrir, teoricamente ele foi criado por Deus, desde o início eu já sabia, parecia homem, pois anjos, apesar de não possuírem um sexo definido são paráfrases de pessoas. Mas o demônio é um homem especial por excelência. Partir no encalço deste peralta. Precisei tomar algumas doses de uísque, não vem ao caso dizer a marca, contudo, uma pesquisa desse gênero necessita de alguns minutos em transe. Faz-se necessário uma concomitância de ciência é espiritualidade. Mas o que importa é que descobri o terceiro questionamento de minha pesquisa, o demônio não possui um território demarcado no universo, a geografia lhe descarta. Seu ambiente, logo veremos, que não se passa de um lugar comum destinado aos infelizes mortais.
Logo em seguida, acabei descobrindo que o demônio, nos seus dias de paz, realiza sonhos e faz tudo quanto os seres humanos fazem. Nos dias de ira faz coisas que os seres humanos repudiam. O demônio é uma espécie de ser que age sozinho ou em coletividade. Minha pesquisa foi mais fácil do que eu imaginava, cada vez eu tentava diagnosticar o demônio ele trazia traços mais aproximados com os dos homens que conheço em meu convívio. Percebi que, um demônio não nem sempre nasce demônio. Infelizmente, a ele se aplica um pouco da teoria de Agostinho e parte de Rousseau, ou seja, na primeira o Homem já nasce mau, na segunda ele nasce bom e a natureza o corrompe.
Assim, constatei, várias experiências de seres que nasceram homens e se transformaram em demônios. Seguindo este raciocínio, meu assunto foi esgotado quando procurei nas mais minuciosas denúncias criminais e registros policiais façanhas que envolvesse o tal ser estranho objeto da pesquisa. Conclusão: nenhum banco já foi assaltado por demônio, ele nunca foi indiciado por ter cometido um assassinato nem um latrocínio. Nos presídios e penitenciárias, não encontrei nem nenhum demônio cumprindo pena, nem mesmo temporária. Não vi nenhum relato de que o demônio foi pego no tráfico de entorpecentes. Enfim, as coisas ruins que acontecem no universo são produzidas pela natureza e feitas pelo próprio homem. Conclui que o demônio em espécie inexiste, ele é uma verdadeira farsa onde o homem covarde se esconde. Fiquei feliz por um lado por ter concluído minha pesquisa com êxito, mas triste por ter descoberto uma triste verdade:  para acabar com o demônio na face da terra, basta apenas eliminar o homem.
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