Pixote - A lei do mais fraco

Na lei do mais fraco nós somos a revolta social. Esquecido pela minha mãe, renegado pelo meu pai, a vida tornou-se um tufão: bagunçando tudo o que existe. Vim parar aqui nesta penitenciária sem perspectiva de vida, onde o tempo não passa e minha mãe[...]. Fui parar a meio a marginais com quais delitos são intangíveis a mim; aqui conheci o Fumaça. Garoto gente boa e bem tranquilo com as coisas. Acho engraçado esse apelido dele, pelo excessivo uso da maconha que ele consome; quiçá a fumaça que repele no ar seja como a forma dele viver a vida reflita, e o efeito da erva, seja a paz de espírito que ele nunca terá nestas frias celas — a infância pueril de um dia eterno e perene no colo de sua mãe, enquanto assiste um programa de TV, bebendo um chocolate quente em uma noite de julho. Tudo isso fantasio, nunca houvera uma mãe que me tenha dado esse cenário, quem dera um local aconchegante para viver. Aqui conheci também outros três amigos, Lilica, Dito e Chico, três pessoas também gente boa. A gente deu fuga da penitenciária quando brutalmente mataram o Garotão, amigo de Lilica; eu fiquei muito mal quando mataram o Fumaça, agora eles vêm e me fazem isso. Infelizmente a sociedade não liga para a gente, muito menos os guardas. Eu queria poder confiar nesses caras, mas não rola, são piores que ratos.

A gente se divertiu bastante quando fomos pro Rio de Janeiro, foi tão legal quando nadamos no mar, foi nesse dia que descobri que eu poderia ser feliz. A água quente que aqueceu a minha alma e que de meus olhos brilharam como o sol, que naquele específico dia, iluminou nossas cabeças vazias de sentido. Conhecemos a Sueli, acabei me simpatizando com ela, a vi como uma mãe que não me criou. Queria poder cuidar dela enquanto ela cuida de mim. Seria como um Yin Yang, uma dualidade que se complementa. Vivíamos de assaltos nos bairros cariocas, tudo sempre do mais fácil para a gente, mas como sempre, o vazio da vida nos consumia. Tudo isso para passar o tempo e nos distrair das nefastas vidas que nos afligia. Em certo momento, eu e Chico deveríamos revender a droga no qual nos foi passada, enquanto conversamos com o cliente, encontramos Debora, uma bruxa que nos passou a perna, disse que iria aparecer em tal lugar com a grana da droga que vendemos a ela; uma caloteira de araque. Discutimos com ela até que infelizmente tive de matá-la, com meu canivete frio... gelado como minha compaixão pelos guardas da penitenciária. A vida vil dessa mulher caiu como um vaso velho, quebrado e limpo da sujeira que causou. Seu sangue caindo gota por gota lavaram minhas sujas mãos, seus pecados foram estrinchados e sua índole foi apagada da história. Não me arrependo do que fiz, nas ruas é assim, ou você devora, ou é xeque-mate do adversário. A gente apesar de perder o Chico, conseguíamos nos divertir com o que roubamos dos otários, até mais fácil viver assim, apesar da minha idade, sou de menor, é mais simples; já para Lilica, não dá mais, vai fazer 18 e não pode dar mole. Quando eu ter 18 também não posso, por isso acho que vou mudar de vida, porque essa é muito vazia, mesquinha e enfadonha. Eu sentia que havia uma família se construindo, me divertia tanto com Sueli e os outros que parecia cena de filme, porém, Lilica estava com ciúme de Dito, queria estar com ele, mas ele já estava de olho em Sueli. Não surpreendente, aconteceu: o casal teve um lance. Lilica não aguentou de ciúmes e nos abandonou, menos um traidor no bando ao menos.

Dito estava ficando mala quando toda sua vida medíocre ao lado de Sueli, não queria dialogar muito, só era grosseiro a todo momento. Infelizmente, em dado momento em um assalto, acabei dando um tiro nele, a intenção sinceramente era na vítima, mas acabou acertando Dito. Confesso que dessa vez, fiquei traumatizado e angustiado, não queria ter feito isso, me sinto mal. Agora estou sozinho, ainda mais com uma prostituta do meu lado. Sueli não me quis como filho, não me adotou, não me cuidou, não fez nada como deveria; quem sabe que se ela tivesse me adotado, eu compensaria aquele feto nojento no lixo do banheiro quando a conheci. Aposto que eu seria filho melhor do que aquele que inexiste. Ela me expulsou de casa, ela senciente de que vai largar uma oportunidade única de mudar de vida, uma verdadeira vida digna e simples que nunca teve. Agora viverei à deriva, como uma fragata que perambula as praias de Copacabana. Eu sou sozinho, nunca tive ninguém e nunca terei. Sou forte perante os fracos que me acompanharam, a vida vai ser vazia, monótona e triste para todo o fim.

 

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