*Pobre Tysica*!
Quando ella passa á minha porta,
	Magra, livida, quazi morta,
	E vae até á beira-mar,
	Labios brancos, olhos pizados:
	Meu coração dobra a finados,
	Meu coração poe-se a chorar...
	Perpassa leve como a folha,
	E suspirando, ás vezes, olha
	Para as gaivotas, para o Ar:
	E, assim, as suas pupillas negras
	Parecem duas toutinegras,
	Tentando as azas para voar!
	Veste um habito cor de leite,
	Saiinha liza, sem enfeite,
	Boina maruja, toda luar:
	Por isso, mal na praia alveja,
	As mais suspiram com inveja:
	«Noiva feliz, que vaes cazar...»
	Triste, acompanha-a um _Terra-Nova_
	Que, dentro em pouco, á fria cova
	A irá de vez acompanhar...
	O chão desnuda com cautella,
	Que _Boy_ conhece o estado d'ella:
	Quando ella tosse, poe-se a uivar!
	E, assim, sósinha com a aia,
	Ao sol, se assenta sobre a praia,
	Entre os bébés, que é o seu logar...
	E o Oceano, tremulo avôzinho,
	Cofiando as barbas cor de linho,
	Vem ter com ella a conversar...
	Fallam de sonhos, de anjos, e elle
	Falla d'amor, falla d'aquelle
	Que tanto e tanto a faz penar...
	E o coração parte-se todo,
	Quando a sorrir, com tão bom modo,
	O Mar lhe diz: «Ha-de sarar...»
	Sarar? Mizerrima esperança!
	Padres! ungi essa criança,
	Podeis sua alma encommendar:
	Corpinho d'anjo, casto e inerme,
	Vae ser amada pelo Verme:
	O bichos vão-na desfructar...
	Sarar? Da cor dos alvos linhos,
	Parecem fuzos seus dedinhos,
	Seu corpo é roca de fiar...
	E, ao ouvir-lhe a tosse secca e fina,
	Eu julgo ouvir n'uma officina
	Taboas do seu caixão pregar!
	Sarar? Magrita como o junco,
	O seu nariz (que é grego e adunco)
	Começa aos poucos de afilar,
	Seus olhos lançam igneas chammas...
	Ó pobre mãe, que tanto a amas,
	Cautella! O outomno está a chegar...
Leça, 1889.