Praia do Palheirão (2)
Fomos para um lugar isolado onde costumo pescar quando quero estar só, um deserto de mar e dunas; na areia da praia caminhavam gaivotas, pequenas rolas e maçaricos. O mar estava calmo, chamava por nós.
O teu olhar e a imensidão do espaço que nos envolviam travavam a minha voz. Ficámos em silêncio, nada havia para dizer, apenas para sentir. Neste local onde o mar canta e sol vê é impossível falar.
Nadámos com a vigilância das gaivotas que são minhas amigas, estávamos a rir e senti o teu corpo junto ao meu, levei-te para baixo e beijei-te para os peixes poderem ver.
Subimos para um lugar quente e seco no meio das dunas e comemos os seus frutos que matam a sede, as camarinhas. Falávamos com as mãos. Juntámos os nossos corpos e colámos o olhar era impossível parar, o Palheirão não deixa.
Neste lugar, onde o mar e o céu se juntam tudo é possível, não existe tempo, apenas o teu olhar. Saímos do mundo para regressar ao cair da noite. Não havia nada para dizer, estávamos adormecidos de olhos abertos e sorríamos com as estrelas.
Miguel Sousa Santos
(16/01/2015)