Provavelmente
Provavelmente as nuvens obscurecem
o azul renitente que me pinta por dentro
olhos de nítida luminosidade com
brilhos de dimensões relevantes
numa aguarela que esbocei em
dias de dor ainda latente
Provavelmente...
Provavelmente o azul renitente
obscureceu a lua em cuja face oculta
havias depositado os resquícios que
a tua alma dorida rejeitava como
remanescências de um tempo em
que apenas a dor te pintava o coração
de uma negridão absoluta e indizível
Provavelmente...
Provavelmente a lua obscurece o brilho
transitório que a simplicidade ilusória
parecia emprestar à vida enquando
a negridão absoluta aparentava dissipar-se
no fio dos dias onde encontravas o consolo
diluído nas horas em que o tempo ia
escorrendo como se não houvesse
princípio nem fim apenas o estático
absoluto do instante
Provavelmente...
Provavelmente o sol ilumina a lua
mesmo oculto nas noites que não esqueceste
e guardava secretamente o brilho que
os teus olhos lhe haviam emprestado até
chegar o tempo de eu pintar a aguarela
de azul nítido que obscurece a lua e te
devolveu o brilho luminoso apenas viável
pelos reflexos do mar viajando suspensos
nas minhas palavras até ao teu olhar...
Provavelmente...