Que Foi?

Hoje, aqui, neste silêncio paira a eternidade

e entre rostos humanos move-se a palidez desumana da lua.

Não há grilhões nem cadeias

sou apenas eu, momentos no tempo e palavras caladas

o corpo tornado sólido pelo ar que respiro.

A partir deste lugar

e de alma totalmente nua,

exponho-me ao nevoeiro e ao vento frio

deste dia escuro e lamentável.

Só voando, como as águias voam

posso ver-me como sou:

uma sombra de mim

com a mente enrolada num lençol,

e as cinzas da semana passada

misturadas neste cheiro de cadáver vivo.

Mas olho-me... e olho-a.

Eu morri e ela morreu

morreu mil mortes

os bocados do seu corpo foram encontrados

em muitos armários e malas...

... embora o coração bata ainda, confuso e estridente,

encadernado em sinos negros de uma rima subterrânea.

 

E nenhuma bandeira justa se atreve a cruzar este deserto
lavado por lágrimas de sal e de sangue.

Eu fui o meu próprio caminho solitário
começado não sei onde.
Mas vou caminhando,
levando comigo a antiguidade de um bilhão de bilhões de olhos incrédulos
que piscam turvos com uma tristeza infinita
e a necessidade eterna de chorar....

Género: