QUEM DIRÁ?
Autor: Bulhão Pato on Thursday, 31 January 2013
Quem dirá, vendo a expressão Que brilha no teu olhar, Que tu não tens coração? Bem haja a mão tutelar, Que á beira me suspendeu Do abismo da perdição! Que delirio foi o meu Naquelles tão curtos dias Que passei ao lado teu? Oh! como tu respondias Com o silencio eloquente Ás palavras que partiam Do meu coração ardente! E depois, se num momento Os labios já não podiam Expressar o sentimento, O fogo do meu affecto, Como o teu olhar inquieto A minh'alma interrogava E todo paixão jurava, Que era meu o teu amor! Oh! que dias de ventura!... Nos campos, abria a flor; Por entre a tenra verdura, Inda fraca, inda infantil, Se escutava a voz das aves Que saudavam abril. E tu, como ellas, ditosa, Ás suas notas suaves Juntavas a voz formosa! Ah! como eu vivia então! Como de novo sentia Rebentar no coração Essa infinita alegria Que nos desvaira a razão! Por quanto tempo durou O sonho que me encantava? Breve foi, maldicta a mão Que d'elle me despertou. Quando mais certo julgava Que era emfim minha a ventura, No momento em que acabava, De escutar dos labios teus Aquelle estremoso adeus! Adeus, que nesse momento Com a esperança sorria E tanto me promettia!... Foi, oh Deus! que de repente, Uma palavra maldicta, Fez que eu visse claramente, Cobrindo minh'alma afflicta De espessa nuvem sombria! ........................ Quem dirá vendo a expressão Que brilha no teu olhar, Que tu não tens coração Ou tem-lo para enganar?! Abril de 1859.
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