_Resposta a huma Carta, que em boa Poezia citava o A. por huns Versos, que tinha promettido_.
A tua polida Carta,
Que honrou hum Poeta razo,
Escrita em pura linguagem,
E assignada no Parnazo;
Da mais injusta ambição
Traz testemunhos fieis;
Possues grossos thezoiros,
E citas-me por dez reis?
Quem do doce Anacreonte
Bebeo o estilo divino,
Quer prostituir seus olhos
Co'as Trovas do Tolentino?
Pago, em fim, divida louca;
Mas quem quer pontualidade,
Cuide tambem em pagar
As dividas da Amizade;
Sabes que intento imprimir;
E porque o Povo não fuja,
Sabio Amigo, emenda, risca,
Põe sabão na roupa suja;
Não te vendo falso íncenso;
Es Juiz da Confraria;
Oxalá que altos negocios
Se tratassem em Poezia;
A Paz, a fugida Paz,
Voltára seu alvo cóllo;
E dera brandos ouvidos
A' branda Lyra de Apollo;
Reziste humana cabeça
A' mais discreta razão;
Mas ao poder da harmonia
Não reziste o coração:
Faze, pois, o que eu te peço;
Que inda que ha vótos diversos,
Se lhe pões a tua lima,
Quem morderá nos meus Versos?
Dá-lhe, depois, teus louvores;
Comprará toda Lisboa,
Se huma vez te ouvir dizer =
Que comprem, que a Obra he boa;
Farta-me a bolsa; e se queres
Ver tambem minha alma farta,
Manda riquezas de Athenas
Embrulhadas n'outra Carta.