Satisfaz-me, somente, ser

Satisfaz-me, somente, ser.
Não vivo para além do que sou,
Nem sou para além do que vivo.
A morte, como um entardecer, é natural
e pinto-a como um grito que calou
Para jamais ser ouvido.

Sou, sentado no tempo
E acarinhado pelo destino,
Feliz, sendo o momento
Que me aparece no caminho.
Não me aventuro, porém,
A enfeitar a minha personalidade
Com o profano além-humano...
Tenho errado a certeza da falsidade,
Como quem despreza...
Porque da morte ninguém escapa.
E se temos a alma presa
A este destino sem sorte,
Escondido pela capa do desconhecido,
Porquê viver sozinho?

Até a morte, como que mentindo,
Grita, cá e lá,
Mas o tempo, verdadeiro, vai-se repetindo,
Apagando o som que há.

Género: