SEM ABRIGO

 
abandonado na beira da estrada
sem casa, nem guarida
só com um cão como camarada
há muito que era esta a sua vida
o tempo passava lentamente
nas noites sempre perdidas
em que o sono só aparecia de repente
quando os pés e mãos eram aquecidas
nas brasas de um fogueira
feita por ele ali naquele canto
com troncos de alfarrobeira
que encontrara no campo
uma cama feita de papelão
um quarto a céu aberto
feita com uma caixa de cartão
que no lixo tinha descoberto
iluminado pelas estrelas
protegido pela lua
considerava-se irmão delas
porque eram a sua família na rua
é certo que tivera família verdadeira
tinha tido muitos sonhos e até filhos
mas hoje vivia sozinho desta maneira
como se fosse só mais um empecilho
infelizmente nada lhe sorria
pesava-lhe nos ombros o passado
em que tivera tudo o que queria
até ter cometido um pecado
que a sociedade não lhe quis perdoar
vivendo por isso agora abandonado
sem ter ninguém para o amar
a sua memória nunca lhe mente
já teve tudo e agora não têm nada
sonha com uma vida diferente
para talvez um dia poder dar uma risada

angela caboz

 

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