Sexta-feira treze e o dia de São Valentim

Na sexta feira treze e no dia de São Valentim
Não se viu grande coisa nem se viu manatim
Somente pássaros a chilrear no seu ninho construído firmemente
O pólen das flores a voar e nas poças de água pousar levemente
 
Hoje, lá fora, a gaiatada às escondidas atrás do portão
Que no meio da noite não se confunde com corujão.
Ontem, cá dentro, a saudade de uma juventude
Sentada à espera de uma mudança que mude
 
O Senhor Custódio continua a vender as gomas
A Dona Firmina vende espigas de milho ao Sábado e cigarros ao Domingo
O Doutor Henrique tem uma letra que não se percebe
A Esmeralda tirou o curso de farmacêutica e lá se formou
 
A concertina permanece nos músicos de bancada
Nos oradores teóricos da política quotidiana
Nas dificuldades que as doenças trazem a todos no geral
Nos buracos e lombas e curvas e pontes e viadutos e separadores centrais
E cruzamentos e semáforos e túneis, rotundas e passadeiras para pessoas banais
 
Não sou o Pessoa, não sou o Negreiros, a Espanca, Torga ou Camões
Não sou o Morrison, o Buarque, o Jobim, o Barros nem faço sermões
Sou o Paulo, nascido em Braga, 28 anos e como todos sujeito a constipações
Não sou de bancada nem de bar nem tenho que vir para aqui dar sugestões
 
Não sou nada e sou tudo ao mesmo tempo
Sou o universo sem limites
Sou o zzzzzzzzzzzz
O sono e o acordar
O sonho sem pestanejar
A almofada e o almofariz
Sou o que sou sem raiz
 
Simples linear
Com nada para contar
Tal como o anis
Pode ser feliz
 
Paulo D. de Sousa
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