Silêncios Indisciplinados
Este silêncio que se escuta entre sons é o que mais saudade carrega. Pedaço de nada que transporta tudo. A distância. A frieza dos sentidos dispersos entre melodias nenhumas. Depois, numa profundidade tão próxima, vejo o teu rosto semi-transparente. As minhas mãos trespassam-no. Depois, o corpo inteiro. Todo o meu corpo a trespassar o teu rosto e a sobreviver no seio dele. São contornos que não começam nem acabam. Eternizam-se sob a forma de magistral prolongamento da vida. A memória enfeitiçada num retorno ao passado, entre caminhos que são finíssimas linhas de algodão cruzadas e entrecruzadas entre si. Então, envelhece-se: os ramos murchos, as folhas secas; o passadiço da vida. Nada sai impune. Não há coisa alguma que escape ao buliçoso sentido de dependência que nos acorrenta. Nesse momento, que é todo o momento e momento nenhum em simultâneo, procura-se a harmonia nos outros, qual equilíbrio de afetos que nos pode devolver a música entre mãos que se dão e dedos que se atam ao sabor do vento.