Sinto a minha vida como um peso!
Sinto a minha vida como um peso!
Sinto um esmagador cansaço
De tudo o que me rodeia.
O lufa-lufa do quotidiano
Vai-me roendo por dentro
Sem que me possa dar conta,
Até que dentro de mim
Fica a restar apenas e só
Um soberbo, gigantesco,
Infindável vazio.
E não querem depois
Que as pessoas se matem?
Pois como há-de tal
Não acontecer?
Não há nada a que agarrar,
Nada que nos possa salvar,
Nenhuma boia salva-vidas
Que prontamente nos resgate
Deste marasmo sem fim,
Deste tédio que nos consome.
Não há vedante que consiga
Preencher este excessivo buraco
Que no peito se me vai abrindo
E pelo qual, lentamente,
Se vai, dorido, esvaindo,
Em lamentos, meu coração,
A minha força de viver,
Meu ânimo, o prazer,
Tudo, tudo, tudo e tudo
O que permite sobreviver.
Oh, desditosa vida maldita...
Que no cismar é que está o mal.
Pensasse menos, vivesse mais
Desfrutasse assim os prazeres banais
De mais um dia-a-dia tão normal
Que se me oferece de jeito natural.
Mas era preciso desprender-me dos "ais"
Afastar os meus pensamentos imorais
Para assim poder, finalmente,
Passar a viver completo e contente.