Soltas

Ser-se prisioneiro do passado é uma viagem carregada com circunstâncias traiçoeiras. Há que evitar a mentalidade derrotista de autómatos, mas tudo aquilo por que ansiei está perdido. Um holocausto, agora paralisado pela derrota depressão e drama. Lá fora, outros vivem sem serem sequer molestados, sem esforços e numa postura aparentemente incontestada provocando-me a paciência. Eu tinha o mapa com o caminho traçado, mas desapareceu... não por acaso. Medimos as nossas realizações com uma vara cósmica de aferição no presente do indicativo... Até percebo que tentarás persuadir, clamando a quem puder ouvir, com essa tua cara até sincera mas insensível, que não temos o direito a ser, e que temos de entendê-lo! ... não ceder a facilidades, ou brilhos ou demónios externos. Enfim tu sabes... recuso-me a ser abalada, quebrada ou agravada, mas vós permaneceis sempre indecisos e numa teimosia atávica ou genética de ficar ali, aferrados, apesar das escorregadelas e tropeções frequentes. Mas o que faremos, se nós temos o nosso próprio desejo? Devorá-lo e lamber o prato? Ou encomendá-lo simplesmente na internet e depois deitá-lo fora? Não posso aceitar esta premissa de espremer almas em caixas e fuzilá-las. Engajar-nos em esforço é uma experiência de fracasso, que aguarda para causar estragos como uma tempestade furiosa e breve. Passou, sem que alguém se apercebesse, o tempo da colheita. Posso ver através de ti e olho para um núcleo emocionalmente danificado por um medo individual e duro, procurando em pressa comprar um bilhete para a aceitação... Mas esse vôo já partiu e tu não o alcançaste. Se adiante as cadeias são removidas e a liberdade é alcançada, para quê preocupar-nos com minudências se é apenas para chegar ao fim e ali permanecer? Plácida e definitivamente mortos... Já não quero saber se agora estamos vivos, se há ou não há limites ou regras, imposições, fachos e bandeiras desfraldadas... Afinal hei-de existir proscrita além do tempo. A minha parede tornou-se uma galeria de olhares e sorrisos fracturados, e há um cabide vazio onde todas as manhãs penduro a minha alma... Porque eu sou cada um de vós, e ninguém. Percebes o que eu quero dizer?

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