Sou os silêncios noturnos
sou as lembranças
encho-me de sonhos
sou a página negra
que rasguei
porque cortei as amarras do meu cais
mergulhei num oceano
mergulhei nas profundezas
para voltar acima
sentir a minha respiração
sobre os meus olhos
sentir aquele olhar
tão flamejante, tão ardente,
transperece a ternura
dessa simplicidade
Sou o arrependimento
de tempos perdidos
quando a minha cegueira
me ofuscou
de ver para lá, de sentir
esse conforto
essa mão que me ampara
não mais a quero largar
Sou aquele regressado na primavera
podem mudar as estações
em cada uma delas
serei eu até ao fim
as minhas crenças, as minhas paixões
Sou o medo e a coragem
sou coração aberto
sou aquele que te quer
como tu
sou aquele que espera
nunca vir tarde
quero retornar ao que perdi
numa batalha acesa
levo a candeia
que ilumina o meu caminho
Sou o homem e a criança que fui
no meu tempo desmedido
se não tenho outra forma de estar
a de ser quem sou
são as aventuras e desventuras
são as paixões alimentadas por perigos
são a minha sede e a minha fome
a minha loucura
que no meu quarto me lembro
de sonhar
que no meu quarto
no meu despertar
eu vim a este mundo
mas que belo prazer
Sou o poeta desconhecido
que te escreve
que te dá a subtileza deslumbrante
num poema de três tempos
quero sentir como te sinto
ver como te vejo
a descer todas as ruas e às avenidas
que do meu cansaço
já eu te perdi desejando-te
a invadir-me dessas petulantes
fragrâncias aromáticas
Sou os pensamentos
o ombro amigo
aquele que te ouve
quando embarcas em viagens
quando te sentes à deriva
segurando essa mão
segurando a corda
não caias no limbo
Poeta dos Tempos Modernos