Supressão do ego

Quatro do dez de dois mil e vinte e um
as redes caíram,
o jovem não sabe se distrair.
Respira, toma refri, engole a ansiedade:
almoço tomado.
Vai pro Twitter reclamar da falta dos
seus comprimidos diários;
paciente à beira da crise está sem
psiquiatra, não quer nem tentar o
divã consigo mesmo.

Abre o navegador, F5, F5: nada!
Chama o Ifood para ter alguém para
ver sem ser seus pais;
come a refeição, ainda insatisfeito.
Está dentro de casa sem máscara,
mas se sente sufocado por dentro.
O mal-estar da pandemia faz ele
ficar preso com o pior inimigo de
todos: seu próprio pulmão, seu
próprio nariz, seu próprio ser.

Tenta meditar, mas não consegue
passar dos dez minutos.
Lê um livrinho para se distrair,
mas, quer tudo fácil, nada complexo;
vai um de literatura comercial,
ou então um livro de investidores
para ele aprender a gastar o dinheiro
que não tem, e nem se tivesse, saberia
como gastar.

Dá uma passada no Medium, quer ler
qualquer coisa, melhor ler uns poemas
curtos, ou então sobre a política nacional,
tudo em nome do banal.
Sem problemas, para enfrentar a crise
existencial tem que ser forte, perceber
que a vida está estranha, muito cibernético
para um sujeito pós-vacina.
O demônio do malogro visita seja no
trabalho, na arte ou nas redes: ele,
infelizmente, está sozinho…

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