Susete-Nova versão -CONTO

 

Quase sempre por volta das oito e meia da manhã, Susete, estava à porta duma agência bancária, para ser dos primeiros clientes atendidos.

Morava alí perto, numa pequena moradia em Carcavelos.

Depois dos assuntos devidamente tratados e uma pequena cavaqueira com os empregados, nos entretantos, sentava-se num dos maples do hall, aguardando a chegada do sócio, também ele  morando alí próximo.
Depois seguiam os dois, ele, num BMW e ela num pequeno MG descapotável, rumo  a Lisboa.
Os dois, exploravam uma pequena empresa, na venda de caravanas de turismo que se situava no Lumiar.

Mulher a rondar os trinta e poucos anos, bastante bonita, cor de pele branca e cabelo louro natural esticado, a moldardar-lhe a cabeça, apanhado atrás, em “rabo de cavalo.” Os olhos eram azuis, dando-lhe um perfeito toque de mulher nórdica. Porém, era oriunda do Minho, daí, talvez, a sua diferença de ordem genética, tendo em conta as diversas comunidades que por ali se fixaram numa mistura de povos de diversas origens, do norte da peninsula e não só.

Vestia com gosto, dentro da simplicidade que a sua actividade exigia. Normalmente vestia casaco e calça bem talhada a cair-lhe solta e impecavelmente direita sobre os sapatos de tiras e de saltos altos bastante finos.  A sua cor predileta era o branco.

O sócio – um homem a rondar os sessenta e tal anos – tinha um porte elegante no trajar tradicional em corte de alfaiate particular.
Meio calvo, com o cabelo lateral bem colado e brilhante junto às orelhas a dar-lhe um aspecto bastante distinto.
A sua conversa era bastante fluente com tiques muito especiais próprios daqueles que frequentam os salões e clubes da alta burguesia. Usava gravatas de cores garridas mas de inegável bom gosto.

Quando se dirigia ao balcão do Banco, era sempre atendido pelo gerente, o que sugeria, à partida, ser um cliente especial.  Com uma postura de grande sobranceria que o saldo da sua confortável conta ali existente lhe permitia, ele nunca pedia fosse o que fosse – dava ordens!

O gerente, Rodrigues, rondando a idade dos trinta e tantos anos, atingira aquele lugar na instituição, desde muito novo, seguindo uma trajetoria de carreira profissional dentro do que era usual naquele tempo, em que a formação profissional fazia parte dos ensinamentos colhidos no exercicio da prática e da sua evolução na empresa. Essa formação deu-lhe, também, um sólido conhecimento na área das relações humanas.  Era casado e residia em Algés.

Susete dirigia a firma com a sua presença normalmente fixada  no stand, onde aí, promovia as vendas, elaborava contratos e preenchia as promissórias (letras) que seriam, posteriormente, entregues no banco para desconto e respectivo crédito na conta da firma.

Assim, a sua ligação com o balcão do banco, era bastante frequente, sentindo uma particular satisfação em ser atendida em breve tempo, pelo gerente, que sempre lhe proporcionava alguma conversa fora do ambito profissional e da rotina do trabalho.
Por vezes, até, quando tinha algum problema mais complexo, no contexto de ordem bancária, telefonava ao gerente, para saber da sua agenda e da disponibilidade para almoçarem num certo restaurante da marginal, junto ao mar e assim, com mais tempo, poder obter informações de apoio à sua gestão, com vista a um melhor  relacionamento  da pequena empresa com os serviços do banco.

Chegava sempre no seu pequeno MG, quase sempre à hora marcada, saíndo com elegancia desportiva sob o olhar atento do gerente bancário que a recebia sempre à porta do restaurante, depois de logo sair do seu carro, previamente  estacionado, esperando sempre um pouco por ela, para  ali, no parque de estacionamento, recebe-la com simpatia.  De facto, Fernando, assim se chamava ele, gostava imenso daqueles bons momentos que lhes eram dados para poder compartilhar a companhia daquela elegante e bonita mulher. 
Depois, sentados à mesa, escolhidos os pratos, dáva-lhe  o privilégio de ele escolher o vinho que melhor entendesse ser adequado para  o prato escolhido. Começavam, então, a conversar, enquanto esperavam a comida. Dava conta dos seus afazeres, sendo notório que valorizava muito o seu trabalho, reflectido nos inumeros contratos que conseguia firmar com os seus clientes – tinha um tique engraçado ao descrever certas situações vividas no escritório. Alguns deles, davam-lhe a necessidade de dar alguma enfase à narrativa, acompanhado de um tique bem peculiar nela que era o de colocar as duas mãos nos bordos da mesa, inclinando-se, um pouco, em simultaneo, para um dos lados, disparando, graciosamente, referindo-se a um certo género de clientes, “daqueles tipo chatos até dizer chega:” -  “eu já estava mesmo podre.” – era um dito bem comum na sua narrativa.

Era casada com um homem mais ou menos da sua idade que já fora, em certa altura, apresentado a Fernando.
De porte atlético, pouco comunicativo,  raramente se fazia apresentar em companhia da mulher. Esta situação inspirava uma certa curiosidade a Fernando.

Quanto ao sócio, de seu nome Luciano, - Dr. Luciano, como era conhecido, exercia advocacia num escritório de advogados de grande reputação, em Lisboa.
Oriundo da cidade da Guarda, residia em Nova Oeiras, era casado e tinha dois filhos já casados.
Possuidor de boa fortuna, não só por ter herdado mas, ainda, por ter aumentado o seu património através de elevados honorários e outras comissões, no desempenho de um profícuo trabalho como cxausídico e dono de um respeitado e conhecido escritório de advogados. Daí a sua notória conta bancária que caucionava, em paralelo, as responsabilidades contraídas pela firma, junto daquele balcão.

Corria  “à boca fechada”pelos empregados ser amante de Susete !

Certo dia, Fernando, quando apreciava uma operação que fora proposta ao banco, pela pequena empresa de Susete, reparou que o nível de responsabilidades tinha atingido o nível máximo desejável. Ultrapassar tal limite, não seria conveniente para a segurança do crédito já comprometido. Era pois, prudente, prevenir a atual situação, com  o pedido da prestação de elementos de escrita disponíveis, bem como a demonstração de alguns rácios apresentados nos elementos oficiais de contas, em cotejamento com os existentes no balcão e ainda,outros dados de gestão.

Com efeito, alguns dias passaram, depois dos serviços da agência bancária terem oficialmente solicitado tais elementos e o Dr. Luciano ter telefonado ao gerente Fernando, a convidá-lo para um almoço de serviço, a fim de lhe entregar tais elementos que haviam sido solicitados e fornecer-lhe algumas informações complementares que fosse oportuno disponibilisar.

E, assim, aconteceu: Á hora certa o BMW impecavelmente limpo e reluzente do Dr. Luciano, estacionava à porta do banco, para aí, apanhar  Fernando e depois seguirem juntos, para Lisboa, concretamente, para o parque florestal de Monsanto.

Pouco depois entraram num restaurante de qualidade que fazia parte do Clube dos Caçadores  onde, também, se praticava o tiro.
Pelo trato e deferencia dos empregados, Fernando constatou que o Dr. Luciano era cliente habitual daquela casa.  Uma sala bastante agradável, compunha um ambiente bastante seletivo e de qualidade, convidando a uma descontração e bem estar – daqueles espaços altamente personalizados que proporcionam tranquilidade.

Depois do Dr. Luciano ter escolhido um prato de caça, com a recomendação do Chefe de mesa, para servir o vinho mais adequado, começou por entrar numa conversa banal, dando conhecimento do seu gosto pela caça, das suas andanças e movimentações nesta área.
De facto, era em Espanha, próximo da fronteira de Elvas que ele, mais um grupo de amigos, faziam parte de uma sociedade que suportava uma grande cotada para, periodicamente, se reunirem e darem satisfação ao desporto que tanto gostavam. Além do mais, era  um encontro de grande impacto social, onde os negócios também tinham lugar.

Já, na mesa, a refeição estava servida e os primeiros goles sorvidos, Dr. Luciano com, uma certa solenidade, alterou o tema da conversa focalizando-a, agora, no que fora agendado, mas antes fez questão, como um preambulo, de dar uma breve informação do porquê  do nascimento  de tal empresa, de venda de caravanas.

Foi, a partir daquele momento que Fernando ficou a saber do grande amor que Luciano nutria por Susete. De facto e conforme a sua confissão ele estava loucamente apaixonado por aquela mulher, ao ponto de fazer qualquer loucura para a ter sempre a seu lado, proporcionando-lhe constituir aquela empresa, insistentemente sugerida por ela, comprando-a a um seu amigo, em má situação financeira, tendo, para isso, que arrumar, de uma vez por todas, as dívidas existentes na  praça bem como os débitos incumpridos, junto da banca.

Fernando, inesperadamente, sentiu um certo desconforto pela confissão, ao mesmo tempo que experimentava um sentimento de receio, tendo em conta a loucura daquele homem e a fragilidade em que a constituição daquela pequena empresa assentava. Ao fim e ao cabo, era um alibi a justificar uma relação inconveniente. 
Aquela idoneidade necessária numa parceria de negócios, cliente/Banco estava, de certa forma, posta em causa – o seu interesse  centrava-se quase, unicamente, num jogo de amor! Fora a maneira que Luciano encontrou melhor para a cativar e prende-la, tornando-se, assim, necessáriamente um elo imprescindível,  na sua relação com a amante.
Fernando sentiu um certo sentimento de vaidade por ser confidente daquele homem que sempre projetava um ar de superioridade arrogante, para todo o mundo que o servia, mas, naquele preciso momento, também activou-se, dentro dele, um clique bem conhecido – prudencia e segurança, era o caminho a seguir.

A seguir ao café, Luciano, retirou de uma pequena pasta de couro, os documentos que Fernando solicitara, acrescentando confirmar a sua disponibilidade para qualquer eventual dúvida.

Dias passaram, após este almoço.
Fernando ao analisar alguns elementos contabilisticos e de registos da empresa,ficou alertado para determinadas situações que não jogavam certas, com os números existentes nos serviços do banco

Entretanto, Susete continuava na sua rotina habitual.

Certo dia apareceu no banco, ao fim da tarde – queria falar com Fernando. Entrou com o seu charme, a sua elegancia, o seu ar jovial. Abrindo a pasta que sempre a acompanhava, retirou alguns bilhetes e estendendo a mão para lhe oferecer disse: são para a “FIL” – gostaria imenso que visitasse o meu “Stand”.  Fernando, retirou um bilhete, dizendo-lhe que teria muito prazer em aceitar, sendo visivel no seu rosto o contentamento com que recebeu tal convite. Era impossivel escapar ao poder sedutor daquela mulher – tudo nela parecia simples e natural ao mesmo tempo inebriante. Não necessitava de quaisquer outros ingredientes para irradiar simpatia e grande poder de sedução.
Nessa mesma noite, Fernando, jantou no restaurante da Feira Industrial. Em seguida, iria visitar o Stand de caravanas, em exibição.
Susete estava bastante atarefada no apoio aos visitantes que apreciavam as caravanas, em exposição.
Com um “com licença” esgueirou-se entre eles, acercando-se, depois, de Fernando, segurando-o no braço, para acompanha-lo a um maple, convidando-o seguidamente a sentar-se. Bem perto uma pequena mesa servia de exposição com vários panfletos da firma a exibirem fotos de caravanas estacionadas em diversos locais paradisíacos.
Durante alguns momentos, Fernando, assistiu aquela mulher a desdobrar-se ativamente no atendimento dos visitantes que iam solicitando  explicações detalhadas sobre o material exposto. Não havia dúvidas – ela era uma vendedora nata. Ao convida-lo para ali estar presente, dava-lhe uma prova eloquente da sua capacidade e competencia, como desenvolvia a sua actividade.
Fernando, depois de alguns momentos e após a chegada do Dr. Luciano, achou por bem, dar como terminada aquela visita.
Destacando-se de todos os presentes, veio despedir-se dele com um beijo, dizendo-lhe quanto apreciara a sua disponibilidade para aquela visita, acompanhando-o até fora do retangulo coberto com passadeira verde.

Fernando juntou-se à multidão – parando um breve momento, olhou para trás – ela acenou-lhe com a mão, enviando-lhe graciosamente um beijo num sopro!  Seguiu então, o seu caminho, com um estranho pressentimento.

Nunca mais Fernando falara com ela, a partir daquela noite. No entanto, ainda conseguira ve-la mais uma vez. Foi no restaurante Mónaco, na marginal.

Fernando tinha recebido um telefonema nessa tarde – era do chefe António, cliente do banco. Manifestava o desejo que ele passasse, à noite, pelo Bar do restaurante, a fim de se inteirar do seu conselho, quanto algumas aplicações que pretendia fazer, junto do balcão do banco.  Fernando era visitante assiduo daquele restaurante – um ícone de qualidade turistica, naquela zona da marginal. Bem gerido, com ramificações em Espanha. Nele, várias personalidades políticas, artísticas e do mundo das empresarial, através dos seus executivos, era dado encontrá-las em frequentes encontros quer de trabalho quer, ainda, de lazer.

Fernando, tinha sempre uma bebida disponível no Bar. Chefe António, fazia questão em sempre servi-la. Depois, em pé, escutava, atentamente, os conselhos que Fernando lhe sugeria para a melhor rentabilização das suas poupanças. Tinha, ali ,o balcão do banco à sua mão.  Também, de vez enquanto, o patrão, sentava-se para conversar sobre aspetos da vida financeira da qual tinha uma larga visão e experiencia. Contactos não lhe faltavam.
Fernando olhou para o relógio – eram onze horas da noite. A sala de jantar estava completamente cheia, como era habitual. Alguns casais dançavam na pista, ao som de um conjunto privativo, com um bom vocalista e vasto reportório.  “Feeling” era a canção a ser ouvida naquele momento.
Fernando, daquele local do  Bar podia alcançar visualmente a sala de jantar.
Eis que, de repente, deu com um casal romanticamente abraçado, com os rostos colados – Era a Susete e o marido!
Constituiam um belo par. Deslizavam suavemente, com a elegancia dos seus corpos jovens! Era uma demonstração de sensualidade e de cumplicidade no desejo que transparecia nos seus rostos, inebriados por aquela canção que, tão bem, se enquadrava ao momento.  Era evidente que Susete não dera pela sua presença.  Estava completamente descontraída e notava-se que estava feliz.
Em certa pausa musical, depois de sentados nos seus lugares da mesa, retiraram do escaparate de suporte do balde do gelo, uma garrafa de champanhe. O empregado atento e solícito, acudiu rápido a servir-lhes, enchendo-lhes  as taças.
No borbulhar da espuma e com os copos levantados, fizeram um qualquer brinde, só eles sabiam a quê – os olhos estavam fixos um nos outro numa evidente cumplicidade!

 

Naquela noite, já a caminho de casa, Fernando abriu a janela do carro para deixar passar o ar da noite. Aquela deslocação de vento a fustigar-lhe o rosto, despertava-o. Uma série de questões estavam equacionadas no seu pensamento.  Algo não estava a bater certo! Tinha esse pressentimento.

Dr. Luciano, entrou no banco, naquela manhã, à hora  do costume. Seguiu rápido para o gabinete da gerencia, pedindo a Fernando para pôr o dispositivo de “ocupado a funcionar”-  Fernando olhou surpreso para ele, reparando que estava fora de si.

Deixando-se caír, pesadamente, sobre o maple disse, olhando vagamente para o infinito: está tudo acabado! – a Susete deixou-me!
O pior disto tudo é que não posso viver sem ela, francamente não sei o que fazer.
Depois, aquele homem até então revestido por uma carapaça altaneira, por vezes até, de uma sobranceria arrogante, sempre seguro de si, caiu num pranto, deixando Fernando sem jeito, estupefacto por tal situação tão insólita e desconfortável. Confessou, pouco depois, ter sido vítima de uma traição e, sobretudo, de uma tremenda ingratidão !

Depois de se recompor disse-lhe com enfase – desculpe-me, sei que você é um homem de principios e não irá, jamais, explorar esta minha fraqueza. Por outro lado não tenho ninguem para desabafar.  Mas, também o que me trás aqui, hoje, é um motivo de negócios e não do coração. Assim, venho comunicar-lhe que a partir deste momento assumirei todas as respomsabilidades da firma perante o banco, honrando todos os compromissos em que a minha assinatura esteja firmada.
Sem saber o que dizer Fernando ficou desajeitadamente silencioso.  Olhou para ele e reparou que não era, exatamente, o homem que antes conhecera mas sim, um destroço humano!

Alguns meses passaram. Nunca mais foram ao banco – tudo era resolvido através da conta particular do Dr. Luciano – assim como todas as responsabilidades da firma, existentes no banco.

Certo dia, Fernando ao abrir a correspondencia, deparou com uma carta  que lhe era diretamente dirigida pela Polícia Juciciária.  Não tardou em abri-la e saber que estava a ser convocado para  apresentar-se na sede daquela polícia, em Lisboa a fim de prestar esclarecimentos sobre um processo a decorrer, de assalto à mão armada, ocorrido em anos anteriores, naquele balcão do banco.
Pelas diversas vezes que, por esse motivo, já tinha sido convocado, conhecia bem os meandros daquele edificio, bem como alguns agentes.  Encontrou, rapidamente, o inspector Ramos que requeria a sua presença para  um reconhecimento de fotos.  Naquela secretária, havia uma bagunça de “dossiers”encadernados. Por detrás dessa montanha de papel, o inspector mandou-me sentar de forma a que Fernando o conseguisse ver.
Depois de se cumprimentarem, foi o desfolhar de fotos atrás de fotos que Fernando teve de se concentrar para o reconhecimento dos assaltantes. Acabada esta colaboração, sem qualquer resultado prático, foi, depois, confrontado com a pergunta “será que vai reconhecer estas?”ao mesmo tempo que abria outro dossier e lhe estendia a página onde estavam escarrapachadas duas fotografias. 
Fernando estupefacto, não podia acreditar no que estava a ver – nada mais, nada menos, na sua frente as fotos de Susete e o marido, devidamente cadastrados. – até prisioneira ela era bonita. O inspetor Ramos, fitou Fernando com um olhar perspicaz, tentando colher todas as reações dele, disparando uma pergunta – e estas conhece? Insistiu! Fernando respondeu afirmativamente, sem conter a sua admiração e certa consternação! (Infelizmente – pensou!)
- pois estes seus clientes, teem vários processos de burla qualificada, roubo e falsificação de documentos!  - o último golpe ocorreu numa firma cujo sócio é  um tal Dr.Lúciano Rodrigues, também, ao que presumo, seu cliente 

– aliás ele figura como queixoso neste processo. “Foi bem esfolado”!
- Digo-lhe, que você terá tido muita sorte, se não embarcou no canto da sereia! Fernando sorriu – estava tranquilo nesse sentido!
- Também acrescento que, Susete, é uma refinada vigarista, já há muito do nosso conhecimento e tem sido vigiada por nós. – o marido é o seu cumplice, espécie de guarda costas!
- Sendo uma mulher de grande beleza, como sabe, dote este acrescido de uma invulgar inteligencia que lhe dá o melhor ingrediente – uma autentica bomba, para melhor consubstanciar os golpes que pretende realizar.
- Portanto, a pergunta que pretendo fazer é esta: sabe-me informar do seu paradeiro? – é que desapareceram e não deixaram rasto.
Fernando respondeu que não sabia.  Havia meses que não aparecia no banco!

Com um forte aperto de mão do inspetor Ramos, saíu do edificio completamente aturdido. Olhou o relógio - eram cinco horas da tarde.
Decidiu fazer um telefonema à sua mulher para terminar o dia na sua companhia – ela trabalhava numa companhia de seguros, sediada numa das torres das Amoreiras.

Assim que chegou perto dela, recebido com o habitual delicioso sorriso, abraçou-a, beijando-a com um carinho bem acentuado!  Ela, com uma certa admiração perguntou-lhe: -  a que devo este teu abraço tão ternurento?
Fernando misterioso respondeu-lhe: - por nada …por nada!
Então, ela, beijando-a novamente, disse-lhe ao ouvido: - seja aquilo que for, eu aproveito a boleia!

E, nessa noite, foram, a convite de Fernando, jantar num bom restaurante.

 

Hélder Gonçalves
(Docarmo)
Janeiro 2013 

Género: 

Comentários

HAPPY !

 

Confesso que quando cá entrei,movida pela curiosidade do titulo, não esperava ser impactada por essa novela de suspense, drama, romance.

E na medida da leitura,fui imaginado mil e um finais e acredites foi um final surpreendente!

Não esperava a postura do Dr. Luciano e nem os actos da Susete e o marido, como foi bem feitoo enredo, prendeu-me a atenção em suspenso.

E com essa mais uma vez a lição de que as aparências realmente enganam,até mesmo as de longa datas e comdados bem firmados, mas é isso mesmo o ser humano e sua mutabilidades cuja capacidade de vestir camaleões tanto faz bonito como feio, levanta ou derruba na ambivalência que faz com que viver seja uma constant aventura.

E o mais bonito de tudo foi o abraço ternurento no finalzinho que assinala bravamente que ainda há muito de bonito nessa terra por que lutar.

Grata por essas emoções, ler-te foi uma arejamento que refrescou-me a percepção.

Obrigado Minha Querida Tankinha por teres tido a paciencia de leres.

Obrigado pelo comentário.

São retalhos da minha vida.

Alguns interessantes,outros não tanto.

É assim mesmo:

"Porque só quem não viveu,não tem história para contar"

Relendo e Absorvendo novos detalhes, novos movimentos do enredo e dos personagens e principalmente retendo o bom aprendizado implícito nas entrelinhas.

 

01- O quanto não fazer pré-julgamentos é importante

 

02- Exercitar o ouvido para o alarme do instinto de auto-preservação

 

03- Buscar o discernimento de quando deve-se exercer a prudência e amainar a impulsividade.

 

04- Dar a devida atenção a linguagem corporal, aos sinais emitidos por nossa inteligência emocional e racional, contabilizando os prós e contras antes de qualquer acto desencadeado, dado que para acção há uma reacção não é?

 

05- Ter um especial cuidado com o que parece ser uma rotina segura e saudável não caindo no comodismo e com isso dando espaço para baixar a guarda mínima do que é dever de toda boa convivência social ou profissional, ouso até dizer também no meio da família, pois o comodismo, a inércia de não ir mais a fundo para os lados que surgem para melhor atenção sempre tendem a abrir para periclitantes riscos de perca e falências.

 

06- Priorizar sempre a simplicidade, ter em quem confiar e onde buscar bons conselhos, manter-se sempre fiel aos próprios princípios baseados numa vida de rectidão.

 

Pois bem e continuando numa releitura mais atenta, seguindo além dos relatos corriqueiros das coisas e movimentos das pessoas nos espaços físicos divididos, tanto nas estruturas privadas, como públicas, podemos daqui aprender que é muito importante atermos além do aparente, nos aplicarmos mais na sondagem além da superfície mostrada e atermos que a pressa pode fazer com que aconteça muitos desmazelos e até mesmo tragédia irreparáveis.

 

Amo ler-te cuidadosamente e várias e várias vezes, pois meu Anjo,, Nobre Escritor e Poeta, tens o dom nato de imprimires em tuas obras experiências únicas e principalmente nos enviar com generosamente as observações traçadas por tua incomparável inteligência e o que mais encanta-me é que escreves tão naturalmente, como se estivéssemos assentados em um bonito e confortável lugar e a contar prazerosamente e completamente envolvido a história que vai surgindo em tua mente tão refinada.

 

Maravilhoso...

 

Maravilhoso...

 

Se permite-me gostava de ainda voltar aqui nessa tua obra, pois ficou-me cá apetecendo, escrever-te mais uns tópicos que veio-me na reflecção, e não o faço agora para não alongar-me em demasia (risos)

 

Mais uma vez grata por essa rica partilha Meu Anjo, oxalá que mais pessoas tenham o privilégio de ler-te como eu estou a ler-te com imenso prazer.

 

Meu muito carinhoso abraço com profunda admiração e encanto




 Resposta ao comentário de Ronilda, sobre o meu texto

SUSETE

 

Minha querida e especial amiga Ronilda;

 

 

Li com atenção o teu comentário sobre este meu texto. De facto ele inspirou-te algumas perplexidades,. Sobretudo a sordidez e desarumo com que certas pessoas caminham na vida. É tudo, ao fim e ao cabo, uma questão de valores.

Mencionaste uma série de paradigmas do que deve ser uma forma de estarmos bem atentos na defesa de um bom conceito de coexistir com uma sociedade que, normalmente, não procede dentro dos ditames dos bons procedimentos.

 

Embora tenha um cariz de um texto com um forte contexto de memórias, não deixa no entanto, de representar, na sua essencia, uma narrativa em que pretende demonstrar as fraquezas humanas e os seus comportamentos desadequados à “normalidade” social dos bons costumes.

 

Com efeito, Susete é a personagem de uma mulher interesseira, inteligente, que não olha aos meios para atingir os fins, mesmo que isso ponha em causa a vida de terceiros. Ela representa aquele género de pessoa que se serve de todos, para atingir os seus objectivos. Infelizmente, o mundo, está cheio de Susetes e Lucianos. É um mundo selvagem em que tudo vale. Vencerá o mais forte, o mais inteligente, o mais endinheirado, mesmo que despido de conceitos morais.

 

Luciano perdeu-se, simplesmente, por amar intensamente uma mulher. Jogou tudo e perdeu tudo, porque o coração falou mais alto que a cabeça. Erro que jamais deverá ser cometido!Mas, certamente, mereceu tal castigo, pela sua falta de humildade e soberba que a sua conta bancária lhe conferia. O amor não se compra!

 

Quanto ao gerente bancário, esse teve a perspicácia de não se envolver nessa teia bem tecida, mas também daí aprendeu uma grande lição – conforme o ditado popular, “nem tudo o que luz é ouro”

Por vezes, aquilo que melhor temos na vida, está bem perto de nós e frequentemente esquecemos não lhe dando o devido valor.

 

 

As tuas reflexões ajudaram-me a dar uma melhor abordagem ao texto, pelo desafio inteligente com que o questionaste.

Agradeço-te muito por isso.

I LOVE YOU

Essa nova versão do "Susete" ficou primoroso,pelo facto da leveza que a mudança da pessoa do verbo disponibilizou, dando um angulo ao leitor, como um prisma voyerista,um descortinar ineterrupto das belezas e mazelas desse mundo afora, das intimidades complexamente nebulosas que permeiam certas cabecinhas, como a da Susete (risos).

 

O que chamou-me atenção foi o facto de que nem sempre a inteligência,leva ao bom caminho, leva a um destino vitorioso de honra,pois como costumamos falar um ao outro em nossas tertúlias:

A inteligência é um como uma moeda de duas faces ou uma espada de dois gumes, se não for bem gerida cai para o lado da derrota isso a moeda e quanto a espada,se não for bem manuseada corta de forma abismal a mão de quem a tem.

 

Fico cá a pensar ...

Se a Susete e o Dr. Luciano tivessem tido a prudência e um pouco mais de moral e menos umbiguismo cada um consigo mesmos,imbuidos em seus cegos projectos materialistas,bem capaz que o destino de ambos tenha sido de outra maneira.

Invocas, de forma muito clara e sobretudo realistica, o moinho que move os ventos da humanidade  não só actualmente,mas já advindo muitas era no passado:

O de pagar-se qualquer preço e sacrificar qualquer vida em prol das aparências.

Criar guerras pessoais,guerras familiares,financeiras, serem geradores de violências para além do emocional apenas como torpe fim de manter-se a aparência do chamado "sonho americano",o tal sonho de consumo que nasceu nos anos d'ouro, na época dos deuses, onde mesmo o mundo a esvair-se em profunda depressão, a luta descabida para manter-se a aparência de sucesso e luxo, valia tudo e um pouco mais.

 

Percebe-se bem pelo modelos vestidos, os restaurantes frequentados, os carros que conduzem, os contratos fechados através da banca e tudo por detrás dos bastidores,no fundo da ídole corrupta o planear macabro do crime idealizado já de muito.

Mostras a crua realidade dos valores morais que pesam na balança do mundo e que hoje cada criança,adolescente,cada jovem,cada idoso pagam caro a factura apresentada, com juros e correcções monetárias, é como dizia minha Voikamina:

 

"Pelos pecados dos pais pagam os filhos".

 

Admiro incondicionalmente a tua forma lúcida,pragmática com que desenrolas todo o cenário e o movimentos dos teus personagens Meu Anjo, principalmente pelo facto de conseguires de forma inédita focar subtilmente um buquet poético, onde prende o leitor do começo ao fim de cada saga que nasce desse teu intelecto brilhante, dessa tua alma grandiosa.

 

Não irei alongar-me mais, mas sinceramente apetece-me (risos)

 

Mas acredites ainda hei de retornar cá a  essa novela, que muito fascina e prende dado o impacto psicológico evocado e propriciando uma meditação mais profunda da complexidade e da riqeuza que é essa eterna,forte e fraca natureza humana.

 

HAPPY !

Com amor beijo-te