Suspensório Rosa

 

Nos meus 25 anos eu descobri que já estava vivendo sem dá conta por isso... e que não era apenas ir para a igreja aos domingos em dias de ceia ou dividir o quarto e a bicicleta com a irmã ou  molhar as plantas no final da tarde antes que faltasse água e esperar fazer 18anos pra ficar gente grande....com 25anos eu entendi porque o asfalto não parece verde, porque  é traiçoeiro...com 25 anos eu fiz o meu primeiro bolo de cenoura, comprei minha primeira sunga branca, comprei todas as fantasias de carnaval para que ninguém usasse...com 25anos  eu consegui verdadeiramente deixar de andar de bicicleta e sim passear de bicicleta....pude abrir minhas gavetas e caixas e papéis de bala e segredos e diários que eu tanto protegia....agora me diga, porque eu não escolhi  o número 10?!?!Sou ímpar, penso par. Perdi tempo demais elucubrando coisas atemporais, a ação já é, somos o agora, o verão é agora, a vida é o agora, é muita responsabilidade ser o que é agora... Nos meus 25anos meu filho nasceu no dia do meu aniversário, mandei desligar todas as tvs do vilarejo para não acordar meu filho  que estava cansado pois tinha acabado de nascer, contratei segurança noturna para as vilas do Rio...aos 25anos eu gostava de comer pepino com pimentão, minha poesia saiu no jornal, soltei os cabelos, comprei óculos escuros, disquei o número do telefone dela...e falei: _Quero você hoje! Com 25anos eu entendi que não existia política e sim filosofia, entendi que existe um rei e que eu sou apenas um escravo, com 25anos eu me batizei porque não tinha saído dos 15 e tendo agora 35anos e ele 40 entendo porque só alguns têm olhos azuis... E se DEUS não for por mim quem irá? Eu joguei tinta verde no vestido branco dela e ela achou melhor assim... Nos meus 25anos Illa voltou a escrever poesia, encontrei Álvaro de Campos no aeroporto, Mônica precisava voltar as ruas, eu precisava nadar toda semana porque o azulejo azul de acalmava...com 25anos eu fui morar no banheiro porque lá era um pedacinho do céu ...mas não passava carteiro...tudo é vaidadeinocencia evaidade....tudo é loucura desde os céus...aos confins da terra. E eu não sabia por que estava aqui e para onde iria ... Maldita judia... Nos meus 25anos fui ao cemitério colocar flores artificiais na cova do meu pai, todos me escutavam, mas eu não tinha nada para falar...

Escrevia números com letras sem fonemas, escrevia sem dar por isso:

"Queibrei a biscicleta quando voltava da escuala"

Já não sabia mais o que escrevia... Não era mais eu em mim... Era a loucura...ausência do espírito.

Pág 48, Diário da Loucura, 1904

                                                                                  Néfesh.

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