SUSPIROS AMOROSOS

Escuta! Em nossa alcova da voz o romper
- é o silêncio plácido de quem vai morrer –
A desertar teus lábios num momento apenas;
Escuta! O céu lá fora as tranças desatando,
Em nosso frio telhado o vento tropeçando,
Trovões monstruosos devorando as avenas!

É bom teu seio ouvir durante a tempestade
E crer que serás sempre a minha majestade,
Quando cavalga o raio na nuvem escura.
Eu vejo em teu olhar os prantos luminosos,
A tua alma arder como os sonhos voluptuosos,
Quando num suspirar te falo de ventura.

Amo-te, donzela, na mais triste pobreza,
Pois sou quem não teve da glória a certeza,
Ao menos razão p`ra lutar junto aos valentes.
Meu galardão está em teus lábios ridentes
- teu caminho de luz que me faz tão contente –
Onde bebo o néctar dos vales envolventes.

Derrame-me o fulgor que teu seio cultiva,
Com carinho alente esta existência furtiva,
Lira fustigada que ninguém nunca ouviu.
Por isso, eu tenho em ti, ó imortal paixão,
Sepulto e aplacado meu fútil coração,
Que p`ra te amar somente no mundo existiu.

Não durma... não deixa-me padecer no leito
Longe de teus suspiros, vertendo em meu peito
Um amor tão doce, que uma canção vigora.
Dê-me num beijo altivo um pouco de alegria,
E vou cantar qual bardo em meiga melodia,
Até fechar meus olhos os passos da aurora.

ALEXANDRE CAMPANHOLA - 25/03/2006

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