TÃO CASTRADOS COMO HERÓIS

Intimidade manipulada, recortada por amargos de boca de impotência. Seres amputados, meios seres, no incompleto, amplificar do arco-íris desenvolto e precioso.
Tracejar de farsa, no drama que cobre o já dilacerado corpo, de personagens teatrais a quererem atravessar os séculos sobre palcos flutuantes, onde não podem apenas ser, deixam-se sobreviver.
A totalidade não consegue existir. Faminta de substancialidade, só aqui e ali, resgata lugares, vibrantes de confrontação e frontalidade.
Tonalidades sujas pela derrota. Espécie de exílio-fado sem a fúria roxa, debitando o cinzento no mundo, a investir de poderes conceitos pestilentos em águas pardas.
Abismos de revolta, depressa recebem sinais de stop e injúrias de poetas-loucos, mistos de bruxos e serpentes, que são despojados da aprovação inventada no fundo empastado das memórias xenófobas e surdas.
Fazer frente ao legado, impõe que se empunhem as armas, da autoestima, apontando-as com precisão sem sombras vacilantes.
Desmoronando a imagem ficcional, raramente é permitido o afrontar do mundo, que só reserva lugares enfileirados, vedados com silicon.
Estilhaços rugem a guerra, atravessam as colas espessas, mas deixam lesões que são inerentes à acutilância subversiva.
Na tentativa de criar espaços fora do contexto, desembocam por aí, deslocados, tingidos com as dores da universalidade.
A palavra protótipo ilumina a moral empoleirada em tapetes escusos e rolantes.
A maior parte dos desajustes são cautelosos sob pena de acionarem grilhões bordados a aço, forçando correntes de elos sedativos e escuros.
O enfado como um fascínio, envolve os estereótipos sem deixar que se revele a própria essência.
Inquietante desgaste pressentido nas entranhas. A dúvida na ética e na postura, cria dualidades submersas e irreconciliáveis.
Conversão à pequenez gelatinosa e fugidia, encaminhada pelo medo de prevaricar. Normas de comportamento em repetição adaptativa, esburacada e pegajosa.
O poderoso delírio da supremacia, absorve, destroça, ao aceitar os cânones, num agir contra si, alimentado pela mimetização sem reservas dos padrões propostos.
Dogmas de atração magnética, induzem a estados de não-consciência, pela fragmentação a escorregar para um poço reluzente de negro. Aterradora vivência sugada até ser engolida, por enredos convenientes.
Perpétua procura a esbarrar com o peso do convencional, coercivo das viagens com asas criativas. Mãos audazes provocam o repúdio. A repulsa da maioria deita-se nas indignações redutoras.
O espelho reflete um percurso de subterfúgios em balanço entre a integração e a marginalidade.
De tutela em tutela, rebola a passividade sem sentido, crispada de morte.
Dignidade fendida e ofendida nos desejos, ofuscada por enganos.
Vai-e-vem de arrebatos contra rochas milenares.
Protetores da identidade, em dias de embarque marcado no oceano agitado da rebeldia.
Confrontação com prestígio declarado, em competição caprichosa choca face aos dedos apontados, intempérie de dados obsoletos, absurdos e limitadores das palpitações da existência.
O ensaio do salto sobre barreiras surge, quando explode uma disposição a arriscar tudo contra a destruição sádica e fatalmente cinza.
Encanto cheio de vida, o da mente que não se acanha no silêncio nubloso.
Brisa leve e quase venenosa, em cativeiro, de baixo de um cognome de antilógica.
Rebentam as raízes, na contradição do sombrio, na nitidez desértica.
O controlo remoto da inquietação, causa danos colaterais, para evitar o absoluto caos.
Pintura convalescente dos retoques da espátula vigorosa, numa ordem universal ilusória.
Poema encapuçado com a imprecisão, do penoso crescer formatado.
Potência confiscada pela brutalidade rígida demove com dobradiças enferrujadas, qualquer vontade férrea, de modo tortuoso inibidor do rodopiar dos sonhos.
Autocéfala revolta arremessada sobre as personagens empacotadas em marcas registadas
O trajeto do transpor da resignação pode ser fendido por indiferenças exaustas.
Sono dos sonâmbulos a passear-se entre atritos isométricos e rotulações sofisticadas, rosáceas espinhadas de frutos azedos.
Voar até à transparência da utopia, é uma lança espetada nos preceituários.

TEXTOS DE Mirandulina

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