*TARDE DE VERÃO*

Trepam-lhe pelas janellas
Jasmins, cheirosas serpentes,
E soltam-se as bambinellas
Em pregas indifferentes.

Os lyrios que são uns ais
Suspiram melancholias;
Riem quadros sensuaes
Nas largas tapeçarias.

Satyro ri nas florestas
Niobe soluça magoas,
E escuta-se entre as giestas
A voz rythmica das agoas.

E á luz dubia dos occasos
Ensanguentados do Sul
As camelias dos seus vasos
Olham voltadas o azul.

Lá dentro das gelosias
Volteiam como desejos,
Perfumes, melancholias,
Como saudades de beijos.

Jaz ao pé do seu bordado
Um cofre de filigrana,
E um mandarim espantado
Com olhos de procelana.

Uma violeta esfolhada
Chora um amor n'um jardim.
Uma vareta quebrada
Ri n'um leque de marfim.

Nadam no quarto perfumes
D'oleos, pomadas cheirosas,
Um collar mostra os seus lumes;
Voam aves gloriosas

N'um album perto olvidado
Ha uns idyllios d'amores,
E ao pé d'um Christo chagado
Morrem nas jarras flores.

Mas, pasmada alheia a tudo
Junto d'um missal já velho,
Uma masc'ra de velludo
Olha idiota no espelho.

Olhos vasios d'espanto,
Olha, olha, nada vê,
Ri-se uma Venus a um canto,
E um cravo murcha-lhe ao pé.

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Assim eu sou moço velho,
E em minha alma, ó minha amada!
Como a masc'ra no espelho
Eu olho e não vejo... nada!

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