A TI
Autor: Soares de Passos on Tuesday, 20 November 2012
Oh! quão formoso me surge o dia Lá quando a noite se inclina ao mar, Quando na aurora, que me extasia, Teu bello rosto cuido avistar! Não sei que esp'rança jámais sentida Então me adeja no peito aqui; É que na aurora saúdo a vida, Outr'ora escura, sem luz, sem ti. Correm as horas, a noite avança, A lua brilha com meigo alvor; Então minha alma, que em paz descança, Divaga em sonhos d'ignoto amor. No véo d'estrellas, na branca lua Meus olhos buscam olhos que eu vi, E o pensamento longe fluctua, E uma saudade revôa a ti. Eis que adormeço, e um anjo assoma Todo cercado d'etherea luz; De seus cabellos recende o aroma Das castas rosas que o céo produz. O céo me aponta, sorri-lhe a face; Acordo, e o anjo foge d'alli; Mas em meu peito logo renasce Doce esperança que vem de ti. Já pela terra surgem verdores, Auras serenas baixam do céo, As aves cantam novos amores, Tudo se cobre d'um floreo véo; E céos e terra, montes, paizagem, Tudo a meus olhos, tudo sorri; É que alli vejo só tua imagem, E que hoje vivo mas só por ti. Talvez que eu sinta meu pobre enleio Passar qual brilho de luz fugaz: Que importa? ao menos dentro em meu seio, Já morta a esp'rança, tu viverás. Oh! sim, que os dias são mais serenos Com tua imagem gravada alli; Té mesmo a morte custará menos, Junto ao sepulchro pensando em ti.
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