Traços do universo

 

Há traços únicos na imensidão do universo que se vislumbra. Se um corpo é um universo, senti-lo entre as mãos é uma verdadeira dádiva, algo quase sagrado quando o amor está contido num abraço.

Por esses trilhos adocicados do ser que se densifica na quietude, anuncia-se um secreto desejo de tudo querer, de lhe querer pertencer. É pura magia aquela que se adivinha num sobressalto da alma em êxtase, nada se lhe pode opor, há uma força universal que lhe permite uma vivência feliz, uma vivência única no mundo, a ilusão do amor feliz.

Como seria a vida sem esta ilusão? seria apenas e tão só uma mera existência banal, sem sabor, uma existência resumida a ela própria, sem a revisitação do ser que se quer perante o outro, sem a dor da ausência. As emoções deixariam de fazer sentido, porque tudo se resumiria a um estar sem um ser autêntico. É bom estar, é bom observar, mas a vida não se pode resumir a isso, há que interagir, há que buscar no outro as respostas para aquilo que não conseguimos encontrar em nós próprios. Não depender, porque a dependência é nociva, mas buscar na dialética aquilo que precisamos para a sobrevivência. É de palavras que o ser humano é feito, que o ser humano é esculpido. Só as palavras podem escrever o destino, porque as palavras provocam e espicaçam as nossas emoções mais íntimas. As palavras provocam ações e as ações provocam palavras, e é nesta interação que nos vamos descobrindo, que vamos perscrutando a nossa sensibilidade. É disto que a vida é feita, é com isto que a vida vai sendo tecida. Sempre como uma manta de retalhos, que se vai costurando à medida que o tempo passa. 

O devir, a dinâmica da vida pode ser vista como uma conjugação dos afetos que nos deixam em pleno êxtase, é bom receber carinho de outro ser humano com o qual nos identificamos de alguma forma, é bom refletir uma emoção como um espelho límpido que transmite a luminosidade de um sorriso. Um sorriso que só pode ser provocado pelo afeto que se materializa na pessoa a quem o mesmo se destina. E não há nada mais genuíno, nada mais afetuoso do que um sorriso dirigido ao outro. É o sorriso a força motriz dos bons afetos, é o sorriso que faz curar as feridas da alma, que faz curar dores físicas provocadas por males de alma. No sorriso sincero habita a beleza da alma, habita a mais pura intenção de amar o próximo sem reservas. O mundo precisa de muitos sorrisos sinceros para contrabalançar o peso da angústia inerente ao ser humano, a insustentável angústia provocada pelos acontecimentos nefastos de pessoas que nasceram mal resolvidas, que, por personalidade própria ou por questões culturais apenas espalham ódios e fundamentalismos exacerbados. 

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