Tributo à Lavoura Arcaica
Debaixo do sol que não reza, fui eu, o filho desgarrado, a ovelha sem promessa, que tentei pela última vez provar do arcaico úbere sem pressa. Já sei que sou eu que guardo a virulenta dose de modorra que o sangue grosso não poupou. Mas não foi por falta de empenho, amada irmã, que me afastei do ventre do lar; nem por ser arredio meu viço doméstico que os anos de lavoura não curaram. Obedeci ao pai todas as manhãs, de sol a sol e chuva a chuva; servi o vinho soberbo em cada copo que me toei; servi à mãe com obediência em cada pão que sovei. Você não vê amada irmã, que minha volta é igual minha partida? As mãos inchadas do pai de tanto ministrar a enxada nunca seguraram e nem vão este meu rosto com a mesma bênção que cultiva o pomo das faces de meus irmãos. As súplicas constantes; o suor relevante, assim, com tanto esforço, foram insuficientes ao tentar prumo na tradição herdada. É atinando na vida desgarrada que me despeço pela última vez, amada irmã, do amor laico.
Comentários
Madalena
4ª, 14/08/2013 - 03:08
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BEM PROFUNDO, ESTE POEMA!
BEM PROFUNDO, ESTE POEMA!
TOCA NA ALMA DESGARRADA E ELA VOLTA À SER LIGADA!
NA POESIA EDITADA!
ABRAÇOS!
P/ Rhodys!
Rhodys de Rodri...
4ª, 14/08/2013 - 03:52
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Obrigado pelos seus versos
Obrigado pelos seus versos para a minha prosa! Felicita-me muito, querida amiga!
Beijos