Era uma extensa área de margaridas do campo.
A primavera de meus dezesseis anos
Uma margarida presa nos cabelos pelo grampo
Até então uma vida sem muitos danos.
Ao correr pela plantação uma cabeça entregue ao vento
Passos levitados em comunhão com o firmamento
Uma alma lavada pelo orvalho do pensamento
Um bem querer de viver em sacramento
Na memória uma falsa pintura sem moldura
Uma orquestra sem maestro e partitura
Uma caminhada de anos sem curvatura
Na solidão o prenúncio de loucura
Hoje na insolência de meus 86 anos
Foi rápido o caminho de margaridas do campo
De meus amores beijos lhanos
Com fios de ouro e prata recamo.
Que doce ironia como flor solitária
Margaridas sempre vivas no silêncio do quarto
Vozes eloqüentes numa eterna catilinária
Entre a vida e a morte esta herança reparto.