Tudo passa...
Autor: Frederico De Castro on Thursday, 30 October 2014
Tudo passa...
Disseram-me ontem
tudo passa
abri então as mãos
pra ver se entre os dedos
minha vida por ali se desenlaça
num laço onde tudo se acaba
esvaziada pelo ar quente
deste imenso verão
que tão tarde de tanto se espreguiçar
não há meio de evaporar
entre tantos sofridos nós confessados
e atados a tudo que se desata enfim
Passou por fim
a mesma calma maresia
o mesmo negrume da noite
abafada no teu ar musicado
na simplicidade até de um açoite
e não há nada que me satisfaça
pois entre os dedos se esvai
rasgando a noite
o rigor da nossa aliança e virtude
que aqui nos ata num enlace
desacelerando até os ventos
petrificados de medo,
em espasmos translúcidos
no dia que tudo se me escapa
arremessando vencidos e vencedores
na brisa do teu poente acolhedor
Disseram-me que tudo passa
mas afinal acordei sem palavras
tal a mordaça
exigente, insegura, carente
com que nos sonhos outros me calam
quando a alvorada satisfeita se acaba
franca e dissimulada entre a luz do sol,
na noite sossegada
criadora,submissa e enamorada
E quando penso que nada passa
tudo assim se expressa
quando a vida se apressa em vagas
tudo resta tal como ser
tudo ou nada
que o vento quis e levou
tudo,
aquilo que se desembaraça da vida
qual argamassa impressa
na semelhança das manhãs que sorriem
despidas e descalças
entre a noite agora disfarçada
sem enganos esboçados numa promessa
ou palavras de amor repensadas
a baloiçar nas asas do silêncio
a cada breve e tão simultâneo momento
FC
Género:
Comentários
Rui Tojeira
Dom, 02/11/2014 - 00:23
Permalink
Belíssimo...
Que belo poema amigo... e o video, boa escolha... Adoro ouvir Yiruma, a música conhecia, mas não com estas imagens de video. Gostei do momento! Obrigado.